Fazenda projeta retomada mais lenta que a prevista

Fabio Graner

18/01/2017

 

 

Meirelles em Davos: menções ao cenário trimestral, que indica aceleração

 

 

Mesmo com a surpresa da aceleração no processo de corte de juros pelo Banco Central, o Ministério da Fazenda indica que vai reduzir a expectativa de crescimento econômico para este ano. O cenário aponta um desempenho mais fraco do que o previsto há apenas um mês e meio.

Em Davos (Suíça), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, enfatizou a recuperação trimestral, que tende a mostrar aceleração ao longo do ano, mas a realidade é que os números mencionados por ele mesmo já mostram uma fotografia não tão positiva para o ano, já considerando a herança negativa de 2016 na avaliação.

A projeção de crescimento de 2% (em números anualizados) no último trimestre de 2017, apresentada aos jornalistas em Davos, representa uma significativa baixa no ritmo de recuperação previsto pela Fazenda. Em 30 de novembro, a pasta projetava oficialmente alta de 2,8% (anualizado) no último trimestre de 2017, em comparação com igual período de 2016. Duas semanas depois, o excesso de otimismo da estimativa apresentada se manifestava. Quando anunciou a primeira rodada de medidas para tentar melhorar o cenário de crescimento, Meirelles já falava em uma alta menor, de 2,5%, embora destacasse que essa era uma expectativa "conservadora".

O resultado do PIB do recém encerrado quarto trimestre de 2016 provavelmente vai gerar um carregamento estatístico negativo que deve jogar contra o número final de 2017. As contas sobre o tamanho do prejuízo legado por 2016 para este ano dependem de quanto se projeta para o desempenho da atividade entre outubro e dezembro. Por isso, o número do PIB fechado de 2017 de fato, como tem indicado o ministro da Fazenda, não será o melhor indicador para medir a saúde da economia brasileira.

Mesmo assim, é forçoso levar em conta que um PIB menor que o estimado, ainda que por uma combinação de carregamento estatístico e velocidade de retomada mais lenta, complica o desempenho das contas públicas. Isso porque o Orçamento aprovado pelo Congresso já estava com um PIB projetado de 1,6% de crescimento, índice bem superior ao esperado pelo próprio governo, o que deve impactar negativamente a arrecadação projetada e forçar um corte de despesas para garantir o cumprimento da meta fiscal de déficit primário do governo central, de R$ 139 bilhões.

Nos bastidores, estimativas preliminares apontavam necessidade de se cortar R$ 50 bilhões de gastos, mas esse número depende de uma série de fatores, entre eles a nova projeção de crescimento. Atualmente, ela é de 1% para este exercício. O número ganhou viés mais claro de baixa com as declarações de Meirelles em entrevistas recentes. Nos bastidores do governo, no entanto, já se falava da possibilidade de uma redução nessa estimativa, não só após os dados ruins da economia em outubro, que empurrou o mercado para uma estimativa média de 0,5% de alta para o ano, mas principalmente pela surpresa negativa na produção industrial de novembro, que aumentou a chance de mais uma queda no PIB trimestral.

De acordo com uma fonte do governo, apesar de ainda não considerar fora do jogo uma alta de 1% para o PIB (cenário cada vez mais raro entre os analistas de mercado), de fato o melhor número estaria abaixo disso. Essa fonte considera a mediana do mercado, de 0,5% de expansão para 2017, factível, apesar de estar com um estimativa um pouco mais alta, cenário reforçado pela queda mais acentuada da Selic. "A questão é o momento e o ritmo em que se dará a retomada da economia", diz a fonte.

A despeito de o cenário de PIB do governo ser pior do que há um mês e da óbvia necessidade de se obter um crescimento mais forte para diminuir o desemprego, é importante notar que ainda há um consenso no mercado de que a economia deve melhorar de ritmo ao longo dos próximos trimestres. Depois de uma longa e intensa recessão, se essa trajetória de aceleração se confirmar, já representará um alento e pode acabar ensejando surpresas positivas mais à frente, algo esperado por parte dos técnicos do governo federal.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4176, 18/01/2017. Brasil, p. A4.