Temer nomeia deputado do PMDB para a Justiça

Vera Rosa / Tânia Monteiro / Carla Araújo / Eliane Cantanhêde / Igor Gadelha

24/02/2017

 

 

Ministério. Presidente escolhe Osmar Serraglio para a pasta, mas definição divide bancada do partido e vice-presidente da Câmara anuncia rompimento com o governo

 

 

O presidente Michel Temer anunciou ontem o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) como novo ministro da Justiça, após 15 dias de disputa entre o PMDB e o PSDB pelo comando da pasta. O parlamentar vai substituir Alexandre de Moraes, que passará a integrar o Supremo Tribunal Federal (STF). O anúncio foi feito depois de muita pressão do PMDB, mas ainda assim dividiu a bancada do partido. O vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), disse que romperá com o governo porque Temer não contemplou o grupo de Minas.

A escolha do deputado foi antecipada ontem no portal estadao.

com.br pela colunista do Estado Eliane Cantanhêde. Serraglio não foi, porém, a primeira opção do governo. Antes, Temer convidou para o cargo o expresidente do Supremo Carlos Velloso e também o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.

Nenhum dos dois aceitou.

Depois de muitas idas e vindas, o presidente também chegou a consultar aliados sobre a possibilidade de dividir a pasta e dar status de ministério à Secretaria de Segurança Pública, mas a proposta não vingou. Em novo arranjo, Temer ainda pretende criar uma secretaria especial para a área, desta vez vinculada diretamente à Presidência, e insistir para Mariz assumir a função.

A nomeação de Serraglio foi acertada na noite de anteontem, no Palácio do Planalto. O convite foi feito logo depois de Temer receber a carta de demissão de José Serra do Ministério das Relações Exteriores.

No quinto mandato consecutivo de deputado federal, Serraglio agora terá sob seu comando a Polícia Federal, um dos braços de investigação da Lava Jato. Depois do anúncio, ele falou sobre a operação e se comprometeu a não interferir na operação. “O que depender de nós para que a Operação Lava Jato tenha o êxito que a população espera, pode contar que nós iremos tomar as providências que forem necessárias.

Não criando dificuldades, não imaginando que se possa interferir e, acima de tudo, colaborando para que ela realmente tenha o instrumental necessário para obter o êxito que nós esperamos”, disse o ministro ao Jornal Nacional, da TV Globo.

Sobre o atual diretor-geral da PF, Leandro Daiello, que é subordinado ao ministério, afirmou: “A menos que ele pretenda deixar o cargo, de minha parte nenhuma restrição, só elogios”.

Na Câmara, o peemedebista presidia a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), posto ao qual chegou no início de 2016 por indicação do então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso pela Lava Jato.

 

Rebelião. Temer pretendia anunciar ontem a troca na liderança do governo na Câmara, mas, diante do princípio de rebelião desencadeado por deputados mineiros – que se sentiram preteridos –, decidiu acalmar os ânimos dos insatisfeitos.

“Estou rompendo com o governo e vou colocar toda a bancada de Minas para romper também.

Se Minas Gerais não tem ninguém capacitado para ser ministro, não devemos apoiar esse governo. Vou trabalhar no plenário contra o governo, para derrotá-lo em tudo. A vice-presidência da Câmara vai ser um ponto de apoio aos que não estão contentes com o Planalto”, afirmou Ramalho ao Estado.

A bancada mineira defendia o nome de Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) para a Justiça. O deputado, porém, perdeu força para ocupar o cargo, após virem à tona críticas feitas por ele ao poder de investigação do Ministério Público. Pacheco, agora, presidirá a CCJ da Câmara.

Ao saber da reação de Ramalho, Temer ligou para ele. O presidente disse não poder nomear Pacheco, mas prometeu recriar um ministério para compensar os mineiros, sem dizer qual.

O deputado afirmou, então, que não aceitava a oferta e comunicou o rompimento. “Que seja feita a vossa vontade”, teria respondido Temer, de acordo com o próprio Ramalho. À noite, ao anunciar Serraglio para a Justiça, o porta-voz Alexandre Parola lembrou que o deputado é um “jurista e congressista com larga trajetória parlamentar na Câmara e traz sua ampla experiência profissional e política para o trabalho”. / VERA ROSA, TÂNIA MONTEIRO, CARLA ARAÚJO, ELIANE CANTANHÊDE e IGOR GADELHA

 

Ministro. Deputado Osmar Serraglio, do PMDB do Paraná, vai comandar a pasta da Justiça

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45055, 24/02/2017. Política, p. A4.