Áudio do gravador de voz da cabine do avião é recuperado

Fernando Exman

24/01/2017

 

 

Técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) conseguiram extrair o áudio do gravador de voz da cabine do avião King Air que se acidentou na quinta-feira, matando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, apesar dos danos na estrutura do aparelho.

Segundo fontes da Aeronáutica, a memória do gravador foi preservada. Seu conteúdo passará por uma análise em meio às apurações da causa do acidente. O gravador chegou a Brasília no sábado e precisou passar por um processo de secagem.

O aparelho, chamado de CVR, está sob os cuidados do Laboratório de Análise e Leitura de Dados de Gravadores de Voo (Labdata), do Cenipa.

Segundo a Aeronáutica, o CVR possui "duas partes". "A primeira é o gravador em si, que armazena os dados. Essa parte é altamente protegida. A segunda é chamada 'base', que contém cabos e circuitos que fazem a ligação com o armazenamento de dados." Foi essa segunda "parte" que molhou e precisou ser recuperada.

O aeroporto para o qual o avião se dirigia, na cidade de Paraty (RJ), não dispõe de torre de controle. Se o aparelho estava acionado durante o voo, teria registrado conversas na cabine e contatos do piloto com a torre de controle do Campo de Marte, em São Paulo, de onde o avião partiu.

A análise das supostas conversas poderia dar pistas aos investigadores sobre as causas do acidente.

Ontem, a Justiça Federal do Rio decretou sigilo sobre as investigações que apuram as causas da queda do avião que levava o ministro e outras quatro pessoas.

A decisão é do juiz Raffaele Felice Pirro, da 1ª Vara Federal de Angra dos Reis. O sigilo em relação a investigações sobre acidentes aéreos tem sido praxe no país. É uma forma de viabilizar a troca de informações com a Aeronáutica, responsável técnica pela apuração.

Lei sancionada em 2014 tornou sigilosa as investigações da Aeronáutica em acidentes do tipo. A polícia e o Ministério Público Federal, ao apurar a queda de um avião, só têm acesso à caixa-preta - com as conversas da tripulação na cabine - mediante decisão judicial.

A lei estabelece duas condições para liberar os dados: que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Aeronáutica responsável pela apuração de acidentes aéreos, seja consultado antes; e que essas informações sejam protegidas por segredo de Justiça, de modo a evitar a divulgação.

A investigação do Cenipa tem como objetivo achar falhas que previnam novos desastres, e não procurar culpados. Este último ponto é alvo das apurações do MPF e da polícia.

O MPF requisitou documentos à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e ao Comando da Aeronáutica relativos à manutenção da aeronave e gravações de conversas entre o piloto e a torre de controle. A procuradora Cristina Nascimento de Melo começa a ouvir as primeiras testemunhas nesta semana. A Polícia Civil do Rio também instaurou inquérito.

A retirada dos destroços do bimotor King Air da baía de Paraty está em curso. Ao final, o material será levado para uma marina em Angra dos Reis e, em seguida, numa carreta para o Rio. A parte principal da aeronave PR-SOM, que caiu no mar de Paraty na semana passada e matou Teori Zavascki, foi retirada da água na noite de domingo e seguiu ontem para o município de Angra dos Reis, no sul fluminense.

A carcaça da aeronave foi içada pela empresa AGS, contratada pela proprietária do avião, o grupo hoteleiro Emiliano, com o uso de um guindaste em uma balsa.

Segundo a assessoria de imprensa do Emiliano, a empresa continua buscando partes menores da aeronave que se espalharam pelo mar. Todo o material está sendo entregue à Aeronáutica, para que seja feita a investigação sobre o acidente. O material será levado de barco até o município até Angra e de lá seguirá por estrada até a Base Aérea do Galeão, onde o material será analisado pelo Cenipa. A caixa preta do avião já tinha sido recuperada na sexta-feira, um dia depois do acidente.

O avião caiu no mar na tarde de quinta-feira, durante uma tentativa de pouso no aeroporto da cidade. Cinco pessoas estavam a bordo e morreram na queda. Além do ministro do STF, estavam no avião o piloto Osmar Rodrigues; o dono do grupo Emiliano, Carlos Alberto Filgueiras; a massoterapeuta do empresário, Maíra Panas; e a mãe dela, Maria Panas. (Com agências noticiosas)

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4180, 24/01/2017. Política, p. A7.