Título: Tombini sob mais pressão
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2011, Economia, p. B17

Prestígio do presidente do Banco Central diminui no Palácio do Planalto após o anúncio da paralisação econômica no terceiro trimestre. Técnicos da Fazenda acreditam que o BC errou a mão

A estagnação da economia brasileira no terceiro trimestre ofuscou um pouco o prestígio que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, angariou no Palácio do Planalto. O desapontamento com o chefe da autoridade monetária cresceu depois que o objetivo de manter a expansão a todo custo virou prioridade na agenda da presidente Dilma Rousseff. Importantes aliados do ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmam que o chefe do BC errou a mão ao apertar as condições de crédito com a elevação da taxa básica de juros (Selic) entre janeiro e julho.

Para um técnico da Fazenda, a equipe de Tombini não soube ler corretamente os sinais que a crise internacional emitia à época e falhou na avaliação do peso que a desaceleração externa teria sobre o mercado brasileiro. Agora, o comandante da autoridade monetária sofrerá mais pressão para cortar a Selic pelo menos a 9%, como quer Dilma, perdendo espaço para argumentações contrárias.

Apesar do desconforto no governo, Tombini tem ao seu lado a opinião de boa parte do mercado. Para a maioria dos economistas, a acusação de que a desaceleração em ritmo superior ao imaginado foi culpa do BC é injusta. De acordo com essa visão, o órgão agiu conforme o cenário disponível. "No início do ano, o consumo vinha forte, ameaçando a meta de inflação, e precisava ser contido. Ninguém enxergava exatamente a força da crise, tanto que a primeira reação do mercado foi criticar a atuação, porque ela não era óbvia", disse Zeina Latif, doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP).

Zeina lembrou ainda que, embora o BC já tenha começado a desmontar as medidas de contenção da atividade, ao voltar a reduzir a Selic e afrouxar o crédito, a inflação não foi controlada. "O risco de estourar o teto da meta de 6,5% ainda não foi eliminado. Os preços no fim do ano são muito sensíveis e qualquer elevação inesperada pode surpreender", afirmou.

Avaliação adequada O secretário do Tesouro, Arno Augustin, reafirmou ontem que o governo continua apreensivo com a crise na Zona do Euro, pois se trata de "um processo complexo e demorado". Mas, segundo ele, o Brasil está em melhor situação que os países avançados. "Tivemos uma avaliação adequada da crise. O conjunto de medidas que adotamos privilegiou o aperto fiscal (corte de gastos), exatamente porque esse era o ponto fraco dos governos, principalmente os da Europa", afirmou. Na visão de Augustin, a antecipação dos efeitos da crise deu mais tranquilidade para lidar com o cenário adverso. "Não está acontecendo nada que a gente não estivesse esperando."