Título: Brasil bate os EUA na atração do investidor
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2011, Economia, p. 18

Paralisia da atividade econômica não impede que o país ganhe pontos entre estrangeiros ávidos por projetos produtivos

Mesmo com a estagnação de seu Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas) no terceiro trimestre de 2011, o Brasil continua atraindo a atenção de estrangeiros interessados em portos seguros para investir. O país figura em uma lista de mercados emergentes que se destacam no ambiente de crise global. Conforme pesquisa da A.T. Kearney, nos próximos dois anos os recursos internacionais destinados a atividades produtivas vão avançar mais rápido nos países em desenvolvimento que nos desenvolvidos. China, Índia e Brasil já passaram a ocupar, pela ordem, os três primeiros lugares no ranking de confiança da consultoria, desbancando os Estados Unidos do segundo para o quarto lugar.

"A tendência é esse quadro se manter, pois os investimentos buscam basicamente participação em mercados domésticos com expansão", analisou Dario Gaspar, sócio da A.T. Kearney no Brasil. Ele lembra que os orçamentos das empresas consultadas pela consultoria só se recuperarão nos próximos cinco anos e de forma bastante lenta. Para 51% delas, a prioridade no momento é ajustar o planejamento estratégico para atuar em ambiente de negócios incerto, incluindo riscos regulatórios e impacto das dívidas dos governos. "Todo mundo espera que as turbulências externas levem a mais taxação e regulação, pois os países ricos precisam recompor os caixas públicos", acrescentou.

Contudo, para o Brasil continuar bem na foto, será fundamental não só preservar a estabilidade econômica e de regras, diz o economista. Será preciso manter a perspectiva positiva para as taxas de consumo, em parte sustentadas por grandes projetos de infraestrutura. "Eventos como Copa do Mundo e Olimpíada têm papel importante. Mas a visão de longo prazo dos investimentos previstos também alcançam oportunidades baseadas no poder aquisitivo, como varejo e telecomunicações", acrescentou. A seu ver, o horizonte bilionário do petróleo, sobretudo com a exploração do pré-sal, tornou-se um capítulo à parte, ao favorecer em seu entorno projetos de segmentos econômicos variados.

Preocupações As economias emergentes representam mais da metade dos primeiros 25 países do índice de confiança da A.T.Kearney. Uma ressalva dos técnicos é que os investidores estão se voltando cada vez mais para o mundo em desenvolvimento, tendo em vista não mais apenas o baixo custo da mão de obra, mas, sobretudo, os mercados consumidores em rápida e significativa expansão.

Os altos executivos das maiores empresas do mundo deixaram claro suas preocupações. Segundo 55% dos investidores entrevistados, seus planos de investimentos voltaram aos níveis anteriores aos da crise econômica, enquanto 25% não esperam uma recuperação antes de 2014. A consultoria alerta que o otimismo ainda cauteloso por parte dos investidores pode evoluir para cortes diante das perspectivas fracas para a recuperação global a curto prazo e a piora dos impasses com dívidas soberanas.

A China permanece como destino preferencial para os investidores estrangeiros, condição que sustenta há uma década, seguida agora por Índia e Brasil. O impasse da dívida norte-americana foi apontado como um dos fatores para o recuo em relação aos EUA. Mais de 60% dos investidores revelaram ainda que a recessão prevista para Europa também mudou significativamente o ambiente global de negócios.

Saída de dólares Um total de US$ 942 milhões deixou o Brasil em novembro, intensificando a debandada de recursos em meio à crise europeia. Pelos dados do Banco Central, a saída de dólares no mês passado foi sete vezes maior que o registrado em outubro. Mas esse movimento, de acordo com a instituição, é natural nessa época do ano — ele decorre da remessa de lucros e dividendos realizada por empresas estrangeiras. Só nos primeiros 22 dias de novembro, foram transferidos US$ 3,3 bilhões pelas multinacionais às suas sedes no exterior. O resultado foi mais que o dobro de outubro. Mas parte das transferências é atribuída à indefinição do cenário externo, o que levou as matrizes a adotarem gestão mais conservadora e a exigir de suas filiais maiores repasses para suprir os resultados globais ruins.