Valor econômico, v. 17, n. 4187, 02/02/2017. Brasil, p. A3

Produção industrial cresce 2,3% em dezembro e indica expansão em 2017

No acumulado em 12 meses, atividade está caindo menos desde junho do ano passado

Por: Tainara Machado e Robson Sales

 

A alta de 2,3% da produção industrial em dezembro, depois de aumento de 0,4% em novembro, na série com ajuste sazonal, reforçou a expectativa de que 2017 seja um ano de crescimento, ainda que pequeno, para a atividade, depois de uma crise que já dura três anos.

O avanço da indústria ainda está baseado na fabricação de veículos, que aumentou 10,8% em dezembro, e há dúvida se o resultado se sustentará em janeiro. Os dados divulgados ontem pelo IBGE trouxeram alguns pontos animadores. O índice de difusão, que mede o número de setores em que a produção subiu, passou de 50% pela primeira vez desde 2012, mostrando que a alta de dezembro não se baseou em apenas um segmento.

A queda de 6,6% da atividade manufatureira em 2016 também "esconde" o fato de que, no acumulado em 12 meses, a produção está caindo menos desde junho de 2016, pior momento para o setor, quando o tombo foi de 9,7%.

O fato de o setor ter encerrado o ano com crescimento na variação mensal também dá uma ajuda para 2017, já que a alta da produção em dezembro deixou uma herança estatística de cerca de 1% para o ano. Ou seja, se ao longo de todos os meses a produção se mantiver no mesmo nível que o observado em dezembro, o setor encerraria o ano com crescimento de 1%.

Números menos negativos, contudo, não mudam o quadro de lenta e gradual retomada da indústria. "O ano de 2016 termina melhor que 2015, mas isso está longe de significar trajetória consolidada de recuperação", diz André Macedo, do IBGE. Apesar do resultado de dezembro, o nível de produção ainda está 19% abaixo do pico alcançado em junho de 2013.

Macedo avalia que é preciso esperar os resultados do primeiro trimestre para afirmar se há uma tendência consolidada de melhora. O pano de fundo é o mesmo: as empresas continuam a demitir, a renda está menor e o crédito, caro e restrito.

Para Daniel Silva, economista do Modal Asset, boa parte da recuperação esboçada até agora está baseada no aumento de 10,8% da produção de veículos, que levou o ramo de bens duráveis a ter alta de 6,5% na passagem mensal. Para ele, é difícil apostar que o setor automotivo vai manter o ritmo do último bimestre de 2016. Fatores pontuais, como a alta mais forte das exportações e perspectiva de aumento do preço do aço, podem ter influenciado na decisão das montadoras de antecipar a produção.

Outros segmentos importantes, como bens de capital e bens intermediários, ainda não acompanharam essa melhora. No caso de intermediários, o crescimento foi de 1,4%, enquanto no ramo de bens de capital houve queda de 3,2%.

Por isso, diz Silva, os indicadores relativos a janeiro terão que ser monitorados com lupa, especialmente nessas duas categorias de uso. "A retomada da indústria, que parece estar em curso, continua mais gradual do que o antecipado", diz ele, para quem o resultado foi bom, mas não "excepcional".

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, avalia que há sinais de recuperação em outros ramos da indústria, além do automotivo. O índice de difusão ficou acima de 50% pela primeira vez desde meados de 2013, nota a economista. Além de veículos, cresceu a produção de vestuário (10,9%), equipamentos de informática (15,2%), móveis (9,6%) e máquinas e equipamentos (2,4%).

Isso não quer dizer, afirma Thaís, que daqui para frente o setor vai registrar sequências de números positivos. Em janeiro, por exemplo, a indústria pode devolver parte da alta de 2,3% de dezembro, o melhor desempenho do indicador nos últimos 41 meses.

Para o Bradesco, é provável que janeiro seja um mês de queda da produção, já que o segmento de bens duráveis, que elevou a produção em 6,5% em dezembro, deve devolver parte do resultado positivo, porque os estoques de veículos subiram. Para o ano, o banco estima alta de 1% da produção, com melhora gradual ao longo do ano.

Para Silva, do Modal, por enquanto, os dados disponíveis para o primeiro mês do ano são esparsos e mistos. Do lado positivo, a confiança dos empresários industriais aumentou 4,3% no mês, na série com ajuste sazonal, segundo a FGV. Por outro lado, lembra ele, a venda de veículos voltou a decepcionar no mês passado.

Para Thaís, da Rosenberg, mesmo que a produção caiu um pouco em janeiro, o fato de a indústria ter encerrado o ano em ritmo positivo dá uma ajuda relevante para o desempenho em 2017, já que o carregamento estatístico foi de 1%, em suas contas. A Rosenberg estima alta de 2% para a atividade industrial no ano, o que exige variação de cerca de 0,2% ao mês, ritmo muito gradual.

Para os economistas, há outros indicadores que sinalizam equilíbrio macroeconômico mais favorável para a indústria. Apesar do desemprego ainda alto, que limita o crescimento da demanda, a redução consistente da inflação permite antecipação do ciclo de queda de juros, que pode chegar a um dígito ao fim do ano.

Silva, do Modal, considera que a recomposição dos estoques também tende a ajudar. Por enquanto, ele espera crescimento de 0,5% do PIB no primeiro trimestre e de 0,7% no ano.

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Em janeiro, setor atinge pior nível em sete meses

 

A atividade do setor industrial atingiu em janeiro o menor nível em sete meses, de acordo com o Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), elaborado pela consultoria Markit. O PMI saiu de 45,2 em dezembro para 44 no mês passado. Leituras abaixo de 50 indicam atividade em retração.

A queda ocorreu em todos os quesitos da pesquisa: novas encomendas domésticas e internacionais, produção, compras de insumos, estoques e emprego. O recuo também ocorreu nos três segmentos acompanhados: bens de consumo, bens intermediário e bens de capital. Ao mesmo tempo, os custos dos insumos atingiram máxima de cinco meses.

As novas encomendas caíram à maior taxa desde maio passado e com isso as fábricas reduziram a produção pelo 24º mês consecutivo. A taxa de redução foi a maior desde maio. A queda dos pedidos internos foi observada principalmente na categoria de bens de consumo. No caso dos pedidos de exportação, o maior recuo ocorreu nos bens de capital. Esta foi também a categoria onde houve o maior número de demissões em janeiro.

Quanto aos estoques, diminuíram na pré e pós-produção. Neste último caso, a queda foi a maior dos 11 anos de história da pesquisa. A Markit não cita as variações dos quesitos abordados no PMI. A despeito dos resultados ruins, a Markit informa que o indicador de expectativas da pesquisa melhorou em janeiro por causa da esperança de retomada em 2017.