Título: PSD com discurso afinado ao Planalto
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2011, Política, p. 8/9

Estrela do lançamento do "Espaço Democrático", órgão responsável pela formação política na estrutura do PSD, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles desenhou ontem um cenário róseo para a economia brasileira no próximo ano, mantendo o discurso afinado com o Palácio do Planalto.

Segundo Meirelles, o país possui instrumentos suficientes para enfrentar a crise econômica que atinge a zona do euro. "Existe o risco de recessão mais profunda em nossa economia, mas o Brasil tem todas as condições de enfrentá-la com o crescimento do mercado interno", afirmou o ex-presidente do BC, durante o evento no Hotel Royal Tulip, em Brasília. "Precisamos aproveitar as oportunidades que se apresentam na questão dos investimentos. Hoje, todos os países querem ser parceiros do Brasil", atestou.

O discurso de Meirelles deu o tom da relação desejada pelo partido com o governo federal. "Ele é o nosso elo com o governo, uma ligação crucial entre um partido jovem e o poder já instalado", definiu um integrante da cúpula da legenda que preferiu não ser identificado. Apesar da bandeira da independência em relação à base de apoio da presidente Dilma no Congresso Nacional, as referências dos comandantes do PSD à "fidelidade" da legenda ao governo foram frequentes no evento. "A bancada federal deu uma demonstração de coerência ao apoiar a aprovação da DRU (Desvinculação de Receitas da União) na Câmara, disse o presidente da sigla, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab."Sempre que houver afinamento com o programa do partido, a presidente Dilma poderá contar conosco nas votações do Congresso".

Os galanteios à atual gestão federal superaram de longe as críticas, sempre suaves. Presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), braço sindical do partido, Ricardo Patah teceu elogios à política de valorização do salário mínimo. "Ela deverá ser sempre intensificada", disse o sindicalista, que alfinetou de leve a carga tributária e discordou da visão geral da sigla, ao avaliar que a crise econômica terá grande impacto sobre o país, no próximo ano.

Enquete A queixa de Patah foi exceção. Em uma enquete rápida, realizada por mensagem de celular durante o evento, 55% dos participantes do evento disseram acreditar que a crise atingirá pouco o país em 2012. As notícias de estagnação no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano devem ser lidas como um mal passageiro, segundo a avaliação de Meirelles. "A perspectiva é de retomada do crescimento nos próximos meses", vaticinou o antigo homem forte da equipe econômica do governo Lula, elogiando o crescimento da classe média e o que considerou ser "o nível de desemprego mais baixo da história".

Meirelles recomendou, contudo, maior investimento em competitividade, tanto pela esfera pública quanto pela iniciativa privada. E fez questão de citar, em seguida, o "papel de destaque" que o partido poderá cumprir na discussão de soluções para o país.

Enquanto se dedica a demonstrar afinação com o governo federal, a legenda concentra esforços em garantir o fortalecimento do partido nas eleições de 2012 — consideradas fundamentais para manter o PSD grande o suficiente para ser um parceiro sempre desejável pelo Palácio do Planalto. "Todo partido nasce para tomar o poder. Nós nascemos para tomar o poder, e vamos tomá-lo pelo meio do voto", resumiu Ricardo Patah.