Bancos elevam taxa de juros ao consumidor

Fabrício de Castro / Fernando Nakagawa

24/02/2017

 

 

 

Mesmo com queda na Selic, juro médio para famílias subiu de 71,7% para 72,7%

 

 

 

Os bancos voltaram a elevar os juros às famílias e empresas em janeiro. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que, apesar da queda da taxa básica de juros da economia (Selic), que vem ocorrendo desde o fim de outubro, o juro médio para as famílias subiu de 71,7% para 72,7% ao ano de dezembro para janeiro. A taxa mais cara de financiamento, a do rotativo do cartão de crédito, teve juros de 486,8% ao ano, o maior patamar da história. Já o juro médio pago pelas empresas subiu de 27,8% para 28,8%. O BC minimiza o aumento alegando que normalmente o custo do crédito sobe em janeiro.

Desde que o Banco Central iniciou o processo de redução da Selic, em outubro, existe a expectativa de que os juros cobrados do consumidor final também caiam gradativamente.

Em várias modalidades, no entanto, o que se viu foi um aumento no mês passado. Das 15 linhas de crédito acompanhadas mensalmente pelo Banco Central, 12 tiveram alta dos juros ao consumidor.

A alta das taxas atingiu desde as operações com maior risco de calote para o banco, como o crédito rotativo do cartão, até empréstimos considerados mais seguros, como o consignado com desconto em folha.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, explicou que o movimento de dezembro para janeiro foi causado pela elevação da margem dos bancos, o chamado spread – a diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é cobrado do consumidor final.

 

Lucro. No caso de pessoas físicas, o spread geral com recursos livres (considerando todas as modalidades) era de 42,1 pontos porcentuais em outubro, caiu para 39,7 pontos em dezembro e voltou a subir para 41,7 pontos em janeiro.

O próprio BC está em campanha para tentar reduzir o spread. Estudo da entidade divulgado este mês mostra que 53,5% do spread é usado pelos bancos para pagar custos relacionados à inadimplência nos financiamentos.

Mas dados mostram que a inadimplência ficou estável em janeiro nos empréstimos para pessoa física e empresas.

Entre os demais componentes do spread, 23,8% viram lucro e o restante é usado para pagar impostos e custos relacionados à operação e aos depósitos obrigatórios no BC – os chamados compulsórios.

Maciel explica ainda que há um comportamento típico do início do ano, quando mais pessoas tomam empréstimos para pagar compras feitas no Natal e despesas da época, como matrículas escolares.

“Com o 13.º salário, as famílias costumam quitar dívidas. Em janeiro, ocorre o contrário”, disse.

Quando o ano começa, as famílias voltam a tomar crédito em linhas como o cheque especial. Assim, o risco dos bancos sobe, o que é repassado para as taxas. “O efeito sazonal na pessoa física decorre da composição (do crédito tomado)”, disse. “Devemos ver retomada da queda da taxa no crédito nos próximos meses.”

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45055, 24/02/2017. Economia, p. B4.