Título: Dilma se emociona em prêmio
Autor: Mariz, Renata ; Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 10/12/2011, Política, p. 3

Presidente fica com os olhos marejados ao entregar troféu à viúva de Vladimir Herzog, assassinado na ditadura

Os dois principais momentos da entrega do Prêmio de Direitos Humanos 2011, a mais alta condecoração do governo na área, na manhã de ontem, no Palácio do Planalto, foram marcados pela homenagem a dois brasileiros que foram desrespeitados em seus direitos exatamente por lutar pelo tema. A presidente Dilma Rousseff entregou troféus à viúva de Vladimir Herzog, jornalista torturado e morto durante a ditadura militar, e à filha de Patrícia Acioli, juíza executada por grupos de extermínio, em agosto, no Rio de Janeiro. Dilma premiou, no total, 21 pessoas e entidades, e voltou a defender a liberdade de imprensa.

Na premiação da categoria Direito à Memória e à Verdade, ao Instituto Vladimir Herzog, a presidente ficou com os olhos marejados. Dilma e a publicitária Clarice Herzog, viúva do jornalista que dá nome ao instituto, abraçaram-se longamente. "Quero fazer uma homenagem a Vladimir Herzog, um grande brasileiro que, na luta de resistência à ditadura, foi morto", afirmou Dilma em seu discurso. A viúva do jornalista também se emocionou. "Eu gostei de conhecê-la pessoalmente. Com a Comissão da Verdade, o Brasil está fazendo o primeiro movimento para esclarecer uma série de episódios da ditadura", avaliou Clarice.

Aos 13 anos, Ana Clara Acioli, filha da juíza Patrícia Acioli, recebeu o prêmio Enfrentamento à Violência representando a mãe. "Fiquei feliz com o prêmio e tenho certeza de que ela (Patrícia) também ficou", comemorou a menina. Presentes à cerimônia, parentes da juíza elogiaram o andamento do processo que julga, no Rio, os policiais acusados de planejar o assassinato de Patrícia.

Premiada na categoria Igualdade Racial, a empregada doméstica Creuza Maria Oliveira pediu a Dilma que se empenhe para mudar o artigo sétimo da Constituição Federal, que deixa os empregados domésticos sem alguns direitos trabalhistas. "Ela deu um show no seu discurso", saudou a presidente, sem se comprometer com o pedido.

Em seguida, a presidente repetiu, ainda que com uma pequena mudança, uma declaração feita durante a campanha presidencial de 2010. "Uma vez, eu disse que eu preferia o barulho às vezes extremamente dolorido da imprensa livre do que o silêncio das ditaduras." No ano passado, Dilma não havia incluído a expressão "extremamente dolorido" à frase.

Reparação Enquanto Dilma Rousseff participava da cerimônia no Palácio do Planalto, parentes de desaparecidos políticos se reuniam com procuradores da República na tarde de ontem. Eles pediram ajuda para pressionar o governo a cumprir a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que completará um ano na semana que vem, determinando medidas de reparação aos parentes dos mortos na Guerrilha do Araguaia. Entre as providências, está a localização e devolução dos restos mortais dos resistentes assassinados. Os procuradores não disseram se tomarão alguma medida, mas os familiares afirmaram estar esperançosos.