Valor econômico, v. 17, n. 4188, 03/02/2017. Brasil, p. A2

Produção nacional de petróleo cresce 2,9% em 2016, puxada pelo pré-sal

Por: André Ramalho e Alessandra Saraiva

 

Puxada pelos projetos do pré-sal, a produção nacional de petróleo cresceu 2,9% em 2016, segundo dados divulgados ontem pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ao todo, foram produzidos, em média, 2,509 milhões de barris diários no ano passado, patamar recorde registrado no país.

Os números representam uma certa desaceleração no ritmo de crescimento da produção de petróleo, se comparado com 2015. Naquele ano, para efeitos de comparação, a produção havia crescido 8,12%. A produção de gás natural subiu 7,5% em 2016, para uma média de 103,5 milhões de metros cúbicos por dia.

Ainda de acordo com a ANP, a produção total de óleo e gás foi de 3,16 milhões de barris de óleo equivalente, o que representa um aumento de 3,8%. Os dados da ANP mostram que o pré-sal já responde por 40% de toda a produção de óleo e gás no país.

Segundo dados da agência reguladora, foram produzidos, em média, 1,266 milhão de barris diários de óleo equivalente (BOE/dia) na camada abaixo em 2016, o que representa uma alta de 33% ante 2015. O pós-sal, por sua vez, continuou em trajetória declinante, com queda de 9,4%, para uma média diária de 1,894 milhão de BOE.

O ano de 2016 marcou também uma queda na participação da Petrobras no total produzido no Brasil, ainda que a estatal continue sendo responsável pela operação dos principais projetos de exploração e produção no país. A parcela da produção na Petrobras ganhou mais importância: subiu dois pontos percentuais, de 16,5% em 2015 para 18,5% no ano passado.

Enquanto a produção de petróleo da estatal cresceu 0,75% em 2016, as demais companhias aumentaram em 15,9%, para 465 mil barris/dia de óleo, puxadas sobretudo pelas petroleiras estrangeiras como Shell, Petrogal e Repsol Sinopec (sócias da estatal no campo de Lula, no pré-sal).

Esse crescimento é explicado pelo aumento da produção no pré-sal, onde os projetos em atividade - leiloados sob o regime de concessão - são operados por consórcios liderados pela Petrobras, mas em parcerias com sócios privados que chegam a deter 55% de participação, como no caso do contrato BM-S-9 (Lapa e Sapinhoá).

Apesar disso, a Petrobras segue como principal operadora do país. Os projetos operados pela companhia representam 93,8% do petróleo produzido no país.

Segundo a ANP, o país registrou recorde mensal de produção em dezembro. Foram produzidos 2,730 milhões de barris/dia de petróleo, superando os 2,671 milhões de barris/dia de setembro de 2016, recorde anterior. A produção de dezembro é 4,7% superior à de novembro.

Lula, no pré-sal da bacia de Santos, fechou o ano como principal campo do Brasil. Em dezembro, o ativo produziu 710,9 mil barris/dia de petróleo, maior volume já registrado por um campo no Brasil.

Ao detalhar a origem da produção, a ANP informou que os campos marítimos produziram 94,9% do petróleo e 78,9% do gás natural em dezembro. No mesmo mês de 2016, 8.573 poços estavam em produção, sendo 755 marítimos e 7.818 terrestres. Ao todo, 287 concessões, operadas por 25 empresas, foram responsáveis pela produção nacional em dezembro.

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Investimento global no setor deve aumentar 7% neste ano

Por: Rodrigo Polito

 

Após dois anos de intensa recessão na indústria de petróleo e gás mundial, as petroleiras deverão aumentar em 7% o total de investimento mundial neste ano, ante as quedas nos desembolsos de 27%, em 2016, e 21%, em 2015, de acordo com estimativas da consultoria Deloitte.

"De forma geral, estamos otimistas sobre 2017. O mercado está começando uma retomada. Os preços estão se estabilizando no patamar de US$ 50 o barril e acreditamos que veremos crescimento de investimentos em 2017", afirma John England, vice-presidente da Deloitte nos EUA e líder para área de óleo e gás da empresa de consultoria.

O especialista, que está no Rio para reuniões corporativas, trabalha com expectativa de preço médio do barril de petróleo em 2017 de US$ 55, podendo chegar ao fim do ano em US$ 60. Ele explicou que esse patamar de preço garante retorno financeiro à maioria dos projetos petrolíferos no mundo, mas não soube dizer se viabiliza os projetos do pré-sal brasileiro.

Como no ano passado, 2017 também será intenso em fusões e aquisições no setor de óleo e gás natural, diz England. Ele avalia que haverá movimentos fortes de consolidação nos segmentos de refino e serviços.

Questionado sobre o efeito da gestão de Donald Trump nos EUA para o setor petróleo mundial, o executivo explicou que há aspectos positivos e negativos. Do ponto de vista positivo, vê uma regulação mais favorável a realização de negócios na área de óleo e gás. Por outro lado, England lembra que a indústria petrolífera é muito globalizada e barreiras criadas para alguns países podem afetar o mercado como um todo.

Com relação ao Brasil, England acredita que as reformas em curso pelo governo tornarão o setor petrolífero mais atrativo. "O Brasil tem muitas vantagens, não só em termos de recursos energéticos, mas em grande número de técnicos", ressaltando a qualidade da mão de obra especializada brasileira.