Paulo Roberto Costa pode perder benefícios de delação

Gustavo Schmitt

18/02/2017

 

 

MPF alega que ex-diretor da Petrobras mentiu em colaboração

Condenado a 74 anos e seis meses na operação Lava-Jato por corrupção e lavagem de dinheiro, Paulo Roberto Costa pode perder os benefícios de sua delação, que lhe permitiu ficar apenas cinco meses preso e cumprir o restante da pena em casa, com tornozeleira eletrônica, por um ano. O Ministério Público Federal (MPF) pediu a suspensão dos benefícios concedidos ao ex-diretor da Petrobras, suas duas filhas e um genro, conforme antecipou o site do GLOBO. Os procuradores alegam que eles mentiram em parte do acordo de colaboração ao mudarem as versões sobre a destruição e a ocultação de documentos da empresa da família, a Costa Global, em 20 de março de 2014, quando Paulo Roberto foi detido pela Lava-Jato.

A força-tarefa quer o enquadramento de Costa e suas filhas Arianna e Shanni, além do genro, Marcio Lewkowicz, na lei de organizações criminosas. A pena pode chegar a oito anos.

CONTRADIÇÕES EM FAMÍLIA

O pedido foi feito no último dia 7, na ação penal a que Costa e sua família respondem por tentativa de ocultação das provas. Os familiares do delator teriam retirado documentos da Costa Global horas antes de os investigadores da Lava-Jato fazerem buscas no local.

Para Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, o confronto dos depoimentos de Costa e de Arianna revelou contradições e omissões em “evidente descumprimento aos deveres assumidos em razão da celebração de acordo”.

Um dos exemplos de versões divergentes citadas pelo MPF diz respeito ao termo de colaboração número 80. No depoimento, Costa disse que requisitou à Arianna a retirada de R$ 100 mil e US$ 10 mil de sua empresa. Contudo, em juízo ele mudou a história. Afirmou ter solicitado que a acusada buscasse R$ 50 mil no escritório da Costa Global Consultoria. O MPF também lembra que o delator negou a existência de contas no exterior no nome de suas filhas Arianna e Shanni. Porém, as duas admitiram em juízo que tinham assinado papéis para abertura das contas.

“Restou demonstrado que Paulo Roberto Costa faltou com a verdade por diversas vezes em descumprimento dos deveres impostos pelos acordos de colaboração premiada”, afirma o documento assinado pelo coordenador da Força-Tarefa, Deltan Dallagnol, além de outros 12 procuradores.

O advogado de Costa, João Mestieri, disse que o pedido do MPF não tem cabimento. Mestieri afirmou que os questionamentos dos procuradores se referem apenas a uma parte da colaboração:

— Estamos plenamente confiantes que tudo seja mantido. Ele (Costa) foi absolutamente leal, verdadeiro e completo em sua colaboração. O MPF não se refere a colaboração total, que não foi sequer questionada, mas a uma pequena ação que envolve a família.

Acostumado a desfilar em carros de luxo e lanchas, Costa voltou aos holofotes nos últimos dias ao dizer à Justiça que não tinha dinheiro para ir a uma audiência da Lava-Jato em Curitiba. O juiz Sérgio Moro aceitou o pedido e lhe permitiu depor por vídeo.

Costa revelou como funcionava o esquema de corrupção da Petrobras e o modo como empreiteiras pagavam propina a partidos políticos e agentes públicos em troca de contratos com a estatal. O acordo de delação foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal no dia 30 de setembro de 2014 e ele foi libertado no dia seguinte.

Além de se beneficiar do esquema de corrupção da Petrobras, Costa também mantinha um esquema paralelo de desvio de recursos e lavagem de dinheiro operado por seu genro Humberto Sampaio Mesquita, morto em janeiro.

Segundo a Polícia Federal, Mesquita operava valores menores, de fornecedores secundários.

O globo, n. 30511, 18/02/2017. País, p. 8