Valor econômico, v. 17, n. 4191, 08/02/2017. Internacional, p. A11

Azevêdo deve ser reeleito antecipadamente na OMC

Por: Assis Moreira

 

O brasileiro Roberto Azevêdo deverá ser reeleito para a direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) no fim do mês, com pelo menos três meses de antecedência, fato sem precedentes nas organizações internacionais.

Azevêdo assumiu o cargo de "xerife" do comércio mundial em setembro de 2013 e é candidato único à reeleição. A previsão era que os países da OMC lhe dessem um segundo mandato, que vai até agosto de 2021, só em maio.

O Valor apurou, no entanto, que o presidente do Conselho Geral da entidade, o norueguês Harald Neple, fez consultas junto aos países que mostraram consenso para confirmar logo o novo mandato de Azevêdo, em reunião nos dias 27 e 28 em Genebra.

Esse consenso, que obviamente conta também com os Estados Unidos de Donald Trump, foi possível graças aos resultados do brasileiro à frente da OMC nos últimos quatro anos. E também pelo interesse dos países em se concentrar logo na preparação da conferência ministerial de Buenos Aires. No encontro, em dezembro, deve ser negociado um acordo internacional, na contracorrente da onda protecionista em alguns países.

Azevêdo foi responsável por duas conferências ministeriais que acabaram bem-sucedidas depois de sua intervenção direta, conforme diferentes relatos de negociadores comerciais.

Em 2013, em Bali, na Indonésia, foi aprovado o primeiro acordo comercial global em quase duas décadas, valendo centenas de bilhões de dólares em redução de barreiras alfandegárias e outras dificuldades burocráticas.

Esse acordo deverá entrar em vigor no fim do mês, num prazo recorde, provavelmente no mesmo dia da reeleição de Azevêdo, quando será atingida a exigência de ratificação de dois terços - o equivalente a 110 países.

Em 2015, em Nairóbi, no Quênia, os países conseguiram aprovar enfim a eliminação imediata dos subsídios à exportação de produtos agrícolas, 54 anos depois da proibição de subsídios para as exportações de produtos industriais.

Recentemente, a entrada em vigor de uma emenda ao Acordo de Trips (propriedade intelectual), permitindo exportação de determinados remédios genéricos para países pobres com produção insuficiente, só foi possivel depois do envolvimento de Azevêdo.

Os países buscavam a ratificação dessa emenda desde 2005, e Azevêdo conseguiu apoio de 40% do total nos últimos dois anos, graças ao seu trânsito entre os diferentes grupos de países, contam fontes na cena comercial.

Além da confirmação do diretor-geral por mais quatro anos, os países na OMC parecem ter clareza de que, sobretudo em momentos de crise e grandes incertezas, o sistema multilateral de comércio é essencial para evitar maiores derrapadas que afetem trocas globais.

No cenário atual, as disputas entre os países tendem a aumentar, mas a expectativa é que sejam resolvidas no âmbito da OMC, sob regras multilaterais.

Quanto ao que pode acontecer em Buenos Aires, no fim do ano, dependerá em boa parte da reação do governo Trump. O plano entre boa parte dos países é de pelo menos definir mais limites para subsídios domésticos para o setor agrícola, por exemplo, e regras para o comércio eletrônico.

Como diretor-geral da OMC, Azevêdo recebe cerca de US$ 500 mil por ano, livre de impostos. O salário não é reajustado há anos e nem há expectativa de que isso ocorra no curto prazo.