Governo do ES força retorno de PMs e espera volta de segurança
Miguel Caballero
13/02/2017
 
 
Mais de 1 mil policiais já se apresentaram, mas tropa ainda apoia greve

Para ter mais policiais nas ruas, o governo capixaba usou helicópteros para levar homens da tropa de elite a um batalhão bloqueado. Vitória espera voltar à normalidade hoje, mas a maioria da tropa apoia a ocupação dos quartéis. No Rio, policiais do Choque foram impedidos de entrar no batalhão, e um PM foi baleado por um colega em Niterói. As autoridades de segurança do Espírito Santo conseguiram melhorar, durante o fim de semana, alguns números e cenários do colapso que já dura nove dias, mas o movimento de ocupação dos quarteis pelas mulheres de policiais permanece e ainda conta com o apoio da maioria da tropa, que está aquartelada.

Entre sábado e domingo, segundo a secretaria de Segurança, 1.236 policiais atenderam ao chamado do comandogeral da PM e se apresentaram em pontos determinados da capital e do interior. O número de homicídios chegou a 144, mas foram registrados apenas quatro entre a tarde de sábado e a tarde de domingo, número bem menor que a média diária da semana passada.

Para obrigar os policiais do Batalhão de Missões Especiais (BME, equivalente ao Bope no Rio) que se apresentaram ontem na Capitania dos Portos, unidade da Marinha em Vitória, a voltar ao trabalho, o governo do Espírito Santo usou helicópteros para levá-los à sede do batalhão, que está com as portas bloqueadas pelo movimento das mulheres. No batalhão, eles pegaram fardas e equipamentos e retornaram à Capitania. A partir das 17h, os homens da tropa de elite da PM começaram a desembarcar de volta, já fardados e com armamentos, na unidade da Marinha.

MILITAR DIZ SE SENTIR “SEQUESTRADO”

Ao contrário dos demais policiais, a quem o chamado do comando-geral da PM mandava se apresentar em praças de Vitória, os membros do BME tiveram de entrar na Capitania dos Portos. Em mensagem por WhatsApp enviada a uma pessoa que se identificou como sua mulher, um membro do BME escreveu que os policiais estavam se sentindo “sequestrados” dentro da unidade da Marinha, mas que “aqui não temos como recusar as ordens, se não é cadeia em presídio militar de 8 a 20 anos”.

Um dos policiais afirmou ao GLOBO, antes de entrar na Capitania, que o comparecimento ao chamado do comando-geral não significava abrir mão do apoio ao movimento de paralisação.

— Eles foram chamados a se apresentar apenas, não sabiam para onde iriam. E foram ameaçados, obrigados a entrar no helicóptero — disse outra mulher de membro do BME.

Com maior presença das tropas federais nas ruas — são mais de 3 mil homens em todos o estado—, a tendência é a região metropolitana de Vitória retomar ares de normalidade hoje. As escolas deverão voltar a funcionar, e o comércio a as empresas deverão reabrir, o que será um desafio para as mulheres acampadas nos batalhões, já que muitas delas precisarão trabalhar.

Nem todos os 1.236 PMs que se atenderam ao chamado de operação do comando-geral no fim de semana deixaram de apoiar o movimento. São policiais que estavam de folga ou de férias, fora dos batalhões, e boa parte ainda defende a paralisação, mas se apresentou para evitar punições por desobediência. Em Vitória, a Praça Oito, a Praça do Papa e a rodoviária foram os pontos de concentração. A maioria não tinha a farda e armas, que estão nos quarteis, e por isso não puderam efetivamente patrulhar a cidade.

Para o ministro da Defesa, Raul Jungmann, a crise de segurança no Espírito Santo, que já deixou mais de 140 mortos, está “superada”. Após reunião com o presidente Michel Temer e ministros, ontem, no Palácio do Jaburu, ele admitiu que a situação gera “desgaste” para o governo, mas garantiu que a população de Vitória já está tranquila e “indo à praia”.

— Hoje (domingo), 100% daqueles que normalmente vão à praia, lá estão. A vida volta à normalidade na Grande Vitória — declarou o chefe da Defesa, que disse que o governo federal será “inflexível” com novos movimentos grevistas em contingente de segurança pública nos estados.

Jungmann avaliou também que a tendência é um aumento “significativo” no número de policiais nas ruas do Espírito Santo, com o “declínio” da greve. Ele admitiu que a crise que já matou mais de 140 pessoas em nove dias gera “desgaste” para o governo. (Colaborou Eduardo Barretto)

O globo, n. 30506, 13/02/2017. País, p. 4