Título: BP ameaça abandonar pré-sal no Brasil
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 10/12/2011, Economia, p. 18

A multinacional BP, empresa de petróleo do Reino Unido, sinalizou a aliados da presidente Dilma Rousseff que cogita deixar o país, abandonando as explorações do pré-sal brasileiro. A companhia ficou incomodada com o que classificou de "politização" do vazamento da Chevron na Bacia de Campos, há um mês. Para ocultar essa razão, utilizaria o argumento de que o governo suspendeu as licitações dos novos campos do pré-sal e que essa indefinição torna muito onerosa sua presença no Brasil.

Especialistas do setor, contudo, acreditam que a empresa britânica pode estar fazendo uma chantagem — afinal, o governo tem interesse em atrair investidores estrangeiros para explorar o pré-sal — em busca de um subterfúgio para evitar que ela própria, no futuro, seja vítima dessa "pressão política". Em 2010, a BP foi apontada como responsável pelo vazamento de 780 milhões de litros de petróleo no Golfo do México, após uma plataforma ter afundado em alto-mar, no maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos.

O acidente com a Chevron, ocorrido em novembro, provocou o derramamento de aproximadamente 477 mil litros no mar. O acidente ocorreu quando a empresa norte-americana tentava perfurar um poço. Segundo um analista do setor energético, o problema foi grave, mas resultou de uma "falta de cimentação adequada do poço" e teve consequências muito menores do que o acidente da BP.

A Chevron foi obrigada a pagar multa de R$ 50 milhões, a reparar os danos ambientais, teve suas operações investigadas pela Polícia Federal e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a especular que ela poderia ser expulsa do país. "A empresa já foi fortemente apenada pelo que fez e foi suspensa de fazer novas perfurações no Brasil, embora seja a segunda maior do mundo", avisou o ministro, no início do mês.

Além disso, a empresa sabe que está na mira da Agência Nacional de Petróleo (ANP). No ano passado, o órgão interditou uma plataforma da BP que apresentava defeito parecido com o verificado no Golfo do México, informou ontem a diretora da agência, Magda Chambriard. A plataforma estaria operando com apenas sete dos 10 comandos hidráulicos.

"Depois de identificar o problema, recebemos um atestado do fabricante dizendo que o equipamento funcionava perfeitamente bem com sete comandos", afirmou Magda. "Mas nós dissemos: negativo. Não acreditamos que vocês estão gastando dinheiro à toa fazendo 10 comandos se precisam somente de sete."