Mina de ouro que Eike Batista disse ter na Colômbia nunca foi explorada

06/02/2017

 

 

Compra da reserva mineral serviu para lavar dinheiro para Sérgio Cabral

A mina de ouro de Eike Batista, cujo contrato fictício de compra teria sido utilizado para repassar US$ 16,5 milhões para o ex-governador Sérgio Cabral, realmente existe, fica próxima a um vilarejo da Colômbia, mas jamais foi explorada pelas empresas comandadas por ele.

Segundo reportagem exibida ontem pelo “Fantástico”, da “TV Globo”, Eike não extraiu de lá nenhuma grama de ouro e foi obrigado a desfazer-se dela.

Os operadores do mercado financeiro Renato e Marcelo Chebar, cujas delações serviram de base para o pedido de prisão preventiva do empresário, contaram ter assinado um contrato de fachada com Eike, em 2011, para disfarçar o repasse de propina a Cabral.

A ideia era simular a intermediação da compra da mina de ouro para justificar o pagamento de uma comissão. Em depoimento à Polícia Federal, o empresário confirmou o repasse ao ex-governador.

Eike de fato adquiriu o empreendimento, de um grupo canadense, por US$ 1,4 bilhão. Chamada “La Bodega”, a enorme mina fica a meia-hora de Califórnia, um vilarejo de mil e oitocentos habitantes.

A 54 quilômetros de distância de Bucaramanga, cidade de mais de 500 mil habitantes, o local fica em uma região historicamente voltada para a extração de metais preciosos. A promessa da AUX, empresa de Eike, era construir a “mina subterrânea mais moderna da Colômbia”, mas em 2015, já afundado em dívidas, o empresário entregou a mina e a AUX ao grupo Mubádala, de Abu Dhabi.

CRÍTICA DOS MORADORES

Até hoje “La Bodega” continua parada, mas não é a única: nos últimos 20 anos, não foi realizada extração de ouro em nenhuma das minas vizinhas. As empresas que atuam no local nunca passam da fase de prospecção, ou seja, dos estudos para saber se a operação é viável.

Um líder sindical entrevistado pela “TV Globo” afirma que as multinacionais só realizam especulação financeira lá:

— As multinacionais vêm aqui só pra especular, nas bolsas, com as suas supostas reservas de minérios — reclamou Fredy Gamboa.

A técnica agroflorestal Sonora Rosa Amira, moradora de Califórnia, afirmou ter ficado feliz com a falência de Eike:

— Nesse projeto, só entramos como mão de obra barata. Fomos postos de lado. E a empresa não fez nada pela infraestrutura do município. O senhor Batista não deixou nenhuma obra aqui.

 

O globo, n. 30499, 06/02/2017. País, p. 6