Pressionado, PT recua de apoios

Vandson Lima e Cristiane Agostine

31/01/2017

 

 

Antes fechado no apoio às candidaturas de Eunício Oliveira (PMDB-CE) para presidente do Senado e de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o comando da Câmara, as bancadas do PT agora tendem a uma reviravolta. Em reuniões ontem e no domingo, os petistas avaliaram que a militância do partido recebeu muito mal a decisão da Executiva da sigla, há dez dias, de conceder apoio às candidaturas para garantir espaço nas mesas-diretoras e no comando de comissões das duas Casas.

Assim como ocorre na Câmara, onde os deputados petistas caminham para o apoio a André Figueiredo (PDT-CE) ou o lançamento de uma candidatura própria, a maioria senadores do PT já está convencida de que o melhor caminho é recuar do acordo com Eunício. No domingo, em reunião na casa do senador Jorge Viana (PT-AC), a tendência ficou clara: dos 10 integrantes da bancada, seis são contra a aliança.

O líder da bancada Humberto Costa, e os senadores José Pimentel (CE), Paulo Rocha (PA) e Viana ainda resistem, pois acreditam que, sem acordo, o PT ficará sem espaço para atuar no Senado. Mas outros parlamentares avaliam que o preço a se pagar para garantir esses postos seria o descrédito junto às bases do partido, cujo efeito seria ainda pior.

A tese que passou a predominar na sigla é de que o apoio a um deputado do DEM e um senador do PMDB, ambos votos favoráveis ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, acabaria com a tese de golpe parlamentar para retirar a sigla do poder. E essa tese é fundamental à reconstrução da sigla e à manutenção de seu vínculo com a militância e os movimentos sociais. Assim, o PT estimulará a candidatura de Roberto Requião (PMDB-PR) a presidente do Senado. O senador, apesar de correligionário do presidente Michel Temer, votou contra a destituição de Dilma.

Em artigo divulgado no domingo, o presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que há "divergências" a respeito da decisão da direção nacional de apoiar candidatos ligados a Temer e estimulou o voto contra Maia e Eunício. Petistas afirmaram que foi uma sinalização importante, que de certa forma "liberou" os parlamentares a rever sua posição.

A carta de Falcão teve o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que depois da pressão da base social do PT concordou em rever a posição. Segundo o deputado federal Vicentinho (SP), o ex-presidente avisou os parlamentares que apoiará quem votar contra Maia e Eunício. "Estive com Lula e ele me autorizou a dizer que apoia essa postura de não votar [nos candidatos ligados a Temer]", afirmou Vicentinho ontem, ao participar do ato "Petista não vota em golpista", em São Paulo, com parlamentares e dirigentes do PT, sindicalistas, movimentos populares e militantes.

No evento, o senador Lindbergh Farias (RJ) disse que a rejeição aos candidatos ligados a Temer une as diferentes tendências do PT.

Os deputados petistas se reunião hoje para definir o apoio. "Devemos acompanhar os senadores", disse Vicentinho. O lançamento da candidatura de Paulo Teixeira (SP) ganhou força, mas os petistas ainda discutem um possível acordo com o PDT.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4183, 31/01/2017. Política, p. A10.