Yunes diz que foi usado como 'mula involuntária' de Padilha 

24/02/2017

 

 

Amigo de Temer afirmou à ‘Veja’ que recebeu pacote a pedido do ministro

Ex-assessor especial da Presidência e amigo do presidente Michel Temer, o advogado José Yunes afirmou que foi usado como “mula involuntária” e “inocente útil” pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Yunes disse ao site da revista “Veja” que recebeu um pacote em seu escritório, a pedido de Padilha, que foi entregue pelo doleiro Lúcio Funaro. Segundo relato de Yunes, Funaro lhe contou que estava financiando 140 deputados.

Yunes descreveu a pessoa que foi entregar o pacote:

“A pessoa se identificou como Lúcio Funaro. Era um sujeito falante e tal. Ele me disse: ‘Estamos trabalhando com os deputados. Estamos financiando 140 deputados’. Fiquei até assustado. Aí ele continuou: ‘Porque vamos fazer o Eduardo presidente da Casa’. Em seguida, perguntei a ele: ‘Que Eduardo?’. Ele me respondeu: ‘Eduardo Cunha’. Então, caiu a minha ficha que ele era ligado ao Eduardo Cunha. Eu não sabia. Fui pesquisar no Google quem era Lúcio Funaro e vi a ficha dele”, disse Yunes.

YUNES CONTOU EPISÓDIO A TEMER

Em entrevista à coluna de Lauro Jardim, no site do GLOBO, Yunes afirmou que contou a Temer o que tinha se passado.

— Contei tudo ao presidente em 2014. O meu amigo (Temer) sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o Padilha. O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre (risos). Eu decidi contar tudo a ele porque, em 2014, quando aconteceu o episódio e eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o “currículo” dele. Nunca havia conhecido o Funaro — contou Yunes.

Preso pela Operação Lava-Jato, Funaro, que permanece na cadeia, é conhecido como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, também preso no escândalo da Petrobras. Segundo delatores, Funaro era responsável por arrecadar, em nome do ex-deputado, propinas com empresários interessados em fazer negócios com a Caixa Econômica Federal e emplacar emendas em medidas provisórias no Congresso.

Yunes diz que recebeu Funaro a pedido do hoje ministro Eliseu Padilha. De acordo com a entrevista do advogado à “Veja”, a conversa com Funaro foi breve: “Cada um com os seus valores (…) Tenho um apreço até pelo Padilha, porque ele ajuda muito o presidente. Mas não teria problema nenhum ele reconhecer que ligou para mim para entregar um documento, o que é verdade. Vamos ver o que ele vai falar. Estou louco para saber o que ele vai falar. Ele é uma boa figura. Mas, nesse caso, fiquei meio frustrado. Não sei. É tão simplório. É estranho, não é?”

Indagado se não suspeitou do pacote, Yunes disse que a encomenda parecia conter documentos:

“Ah, não dava para saber. Não era um pacote grande, não. Mas não me lembro. Foi tudo tão rápido. Parecia um documento com um pouco mais de espessura. Mas não dava para saber. A delação do Claudio Melo (Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht) fala que recebi R$ 4 milhões. Cá entre nós, R$ 4 milhões não caberiam num pacote, né? O que o Lúcio deixou aqui foi um pacotinho”.

Procurado pela “Veja”, que o indagou sobre sua relação com Funaro e o pacote entregue a Yunes, o ministro Eliseu Padilha respondeu:

“Não o conheço. Por não conhecê-lo, logo não pedi nada a ele”, afirmou.

DELATOR FALOU DE ENTREGA DE DINHEIRO

Em sua delação, Claudio Melo Filho, da Odebrecht, não especifica quanto dos R$ 4 milhões foi levado ao escritório de Yunes. Disse apenas que houve entrega de parte do dinheiro no local. O executivo também narra ter ouvido de Padilha que Cunha ficou com R$ 1 milhão da propina. Os investigadores da Operação Lava-Jato vão apurar se o pacote deixado por Funaro no escritório de Yunes tem realmente ligação com o dinheiro destinado a Padilha ou com o R$ 1 milhão endereçado ao expresidente da Câmara.

Yunes negou à “Veja” que tenha arrecadado dinheiro para a campanha de Temer ou mesmo para o PMDB e ressaltou que sua relação com o presidente é baseada numa amizade de longa data, desde os tempos de faculdade.

 

O globo, n. 30517, 24/02/2017. País, p. 7