Desastre adiado

Carlos Osorio 
24/02/2017
 

 

Nesta segunda-feira, a Alerj aprovou a venda da Cedae. A bancada do PSDB votou contra. Justamente nós que somos do partido que empreendeu as maiores reformas contemporâneas de modernização do Estado brasileiro. Isso incluiu a estabilização da economia, a Lei de Responsabilidade Fiscal e diversas privatizações. O povo brasileiro até hoje usufrui de seus benefícios.

Nosso posicionamento na questão da Cedae não é ideológico. Reflete o dever de proteger os interesses da população nesta hora tão grave. O Estado do Rio está mergulhado na maior crise da sua história. E esse cenário de caos não se formou da noite para o dia. Foram anos de irresponsabilidade fiscal, incompetência e da mais desenfreada corrupção. Precisamos, sim, de uma profunda reforma que reorganize o estado sob novas bases, onde impere a boa gestão.

No entanto, é indispensável que o governo tenha credibilidade. Esse governo é disfuncional, não tem plano para recolocar o estado nos trilhos. Engana a sociedade dizendo que fará cortes, mas continua com as piores práticas, recriando secretarias e inchando a máquina com indicações políticas.

Somos a favor das privatizações, elas levam o Estado a priorizar e melhor realizar sua função: prestar os serviços essenciais com qualidade aos cidadãos. Agora, vender a Cedae, sem estudo ou discussão, em troca de empréstimo para cobrir uma folha de pagamento e meia, e com base num acordo que não garante o reequilíbrio das contas do estado, é somente adiar o encontro com o desastre. Essa proposta tornase ainda mais preocupante quando tratamos de uma questão sensível como o fornecimento de água e esgoto. Em 26 das 27 unidades da Federação, o estado controla a produção e o tratamento de água. Os processos de oferta de ações das companhias de saneamento sempre visaram à captação de recursos para melhorar os serviços, jamais para pagar as contas da farra fiscal do controlador.

Apresentamos diversas propostas para fazer crescer a receita do estado de forma sustentável, sem aumento de impostos. Urge rever e aprimorar a descontrolada política de incentivos fiscais e explorar oportunidades de novas concessões. É preciso também estabelecer uma agenda agressiva para a retomada do crescimento, mas isso só se faz com confiança. Evidentemente que um justo entendimento com o governo federal é necessário, assim como é indispensável a reorganização completa do estado. Tudo que os atuais governantes se mostram incapazes de fazer.

O grupo que governa o Rio tem que ser retirado do poder. Sem credibilidade, não reúne condições de realizar reformas, pois foi o responsável pela nossa derrocada. Assim foi preciso em âmbito nacional, com o impedimento de Dilma Rousseff. Hoje vemos o esforço que o governo federal está fazendo para retomarmos a normalidade econômica, cerramos fileiras nessa travessia, mas o governo do Rio pertence ao passado, que ainda teima em assombrar nossas vidas. A crise não pode servir de escudo para proteger aqueles que foram responsáveis por ela.

 

O globo, n. 30517, 24/02/2017. Artigos, p. 15