O Estado de São Paulo, n. 45056, 25/02/2017. Política, p. A6

Temer diz que pediu auxílio à Odebrecht

 
Carla Araújo
Tânia Araújo

 

O presidente Michel Temer disse ontem, por meio de nota, que pediu “auxílio formal e oficial” quando era presidente do PMBD à Odebrecht na campanha eleitoral de 2014, mas negou irregularidade.

A afirmação foi divulgada um dia depois de o ex-assessor especial da Presidência José Yunes afirmar que atuou como “mula involuntária” do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao receber um pacote em seu escritório de advocacia, em São Paulo, das mãos do operador Lúcio Funaro.

“Quando presidente do PMDB, Michel Temer pediu auxílio formal e oficial à Construtora Norberto Odebrecht. Não autorizou nem solicitou que nada fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral”, diz o texto, divulgado pela Secretaria de Comunicação da Presidência.

“A Odebrecht doou R$ 11,3 milhões ao PMDB em 2014. Tudo declarado na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral. É essa a única e exclusiva participação do presidente no episódio”, completa a nota. Procurado, Padilha não foi encontrado ontem.

Episódio. Assessor especial da Presidência até o final do ano passado, Yunes disse que recebeu um pacote do doleiro um mês antes da eleição presidencial de 2014, que reelegeu a chapa Dilma Rousseff e Michel Temer.

O advogado alegou, porém, que não viu o conteúdo. Apesar da afirmativa, Yunes negou que tenha atuado como operador dos recursos de campanha do PMDB.

Yunes disse que conversou pessoalmente com Temer na quinta-feira e falou sobre o depoimento que fez à Procuradoria- Geral da República sobre o caso, que foi tornado público no fim do ano passado na delação premiada do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho.

As declarações de Yunes levaram preocupação ao Palácio do Planalto, num momento em que Temer pretendia investir nas “boas notícias” da economia.

Ontem, em vídeo postado na página oficial no Facebook, Temer ressaltou medidas na economia e disse que seu governo “conseguiu controlar a inflação e vencer a recessão”. “Há anos que a inflação não se reduz aos porcentuais de janeiro e fevereiro.

O significado é a restauração e confiança da credibilidade no País”, afirmou. Ele embarcou ontem com a família para passar o carnaval na Base Naval de Aratu, na Bahia.

 

 

PARA LEMBRAR

Delator citou ‘apoio’ ao PMDB

Em sua delação, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse que o presidente Michel Temer pediu “apoio financeiro” para as campanhas do PMDB em 2014 ao empreiteiro Marcelo Odebrecht, que se comprometeu com pagamento de R$ 10 milhões.

Desse montante, segundo Melo Filho, R$ 6 milhões foram destinados à campanha do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao governo de São Paulo e R$ 4 milhões “ficaram de ser alocados” pelo atual ministro- chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Em dezembro, a Coluna do Estadão informou que o operador financeiro Lúcio Funaro entregou ao ex-assessor da Presidência José Yunes R$ 1 milhão proveniente da Odebrecht a mando de Padilha

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Anastasia entra na lista de cotados para substituir José Serra

 

Por: Igor Gadelha

 

O Palácio do Planalto cogita o nome do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) para o Ministério das Relações Exteriores no lugar do tucano José Serra (SP). Ele deixou o cargo na quarta-feira, alegando problemas de saúde, e voltou para o Senado.

A nomeação de Anastasia seria uma forma de o presidente Michel Temer manter a pasta nas mãos do PSDB e, ao mesmo tempo, acalmar a bancada de Minas Gerais no Congresso, que cobra um espaço no primeiro escalão do governo. “Ele só não será ministro se ele e o PSDB não quiserem”, disse um parlamentar próximo de Temer.

Anastasia negou ontem interesse em assumir a pasta. De acordo com a assessoria do tucano, o senador nega “qualquer possibilidade” de substituir Serra. Auxiliares de Anastasia também negaram que tenha ocorri- do qualquer sondagem por parte de integrantes da cúpula do governo.

Nomes. No PSDB há ainda outros nomes cotados para o cargo, entre eles, o do líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), e o do senador Tasso Jereissati (CE).

Temer, no entanto, não pretende anunciar, de imediato, o nome do sucessor de Serra. A ideia é deixar para depois do carnaval. Entre os nomes ligados à diplomacia, é forte a pressão pelo embaixador Sérgio Amaral, que ocupa um posto estratégico em Washington. Próximo de Serra, Amaral ajudou na formulação da política externa.

Desde a oficialização da saída de Serra, as negociações para a escolha do novo ministro têm ocorrido entre Temer e lideranças do PSDB. O presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), esteve reunido ontem no Palácio do Alvorada para tratar do tema. Segundo integrantes da cúpula da legenda, a escolha do novo ministro vai passar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ocupou a pasta no governo Itamar Franco. /Colaborou Erich Decat