Um enredo pronto para o cinema

Alessandro GIiannini

01/02/2017

 

 

Prisão de Eike Batista faz produtora retomar projeto de filme sobre a vida do ex-bilionário

Quando comprou os direitos de adaptação do livro “Tudo ou nada — Eike Batista e a verdadeira história do Grupo X”, da jornalista Malu Gaspar, a produtora Mariza Leão não imaginava as reviravoltas pelas quais a vida do empresário passaria. Batista, investigado na Operação Lava-Jato por suspeita de pagar propina ao ex-governador Sérgio Cabral, foi preso anteontem pela Polícia Federal, quando desembarcou no Rio, ao chegar de uma curta viagem aos Estados Unidos.

— De certa forma, faltava a essa história algo mais próximo dos escândalos políticos atuais, e agora isso ficou claro. O que torna o projeto mais contemporâneo — disse ela, em entrevista ao GLOBO.

Esse grande ponto de virada, como são chamadas pelos roteiristas as mudanças bruscas nas narrativas, era o que faltava para a produtora retomar o projeto do filme sobre Batista, cuja concepção e direção ficarão a cargo do cineasta João Jardim (“Getúlio”):

— Ele vai de Nova York para Bangu, ou seja, vira mais uma peça na Operação Lava-Jato — disse o cineasta. — É um cara que ergueu uma grande fortuna e perdeu quase tudo. Algo inacreditável até para uma ficção. Às vezes, só a vida real para nos alimentar com essas coisas.

Após ler a biografia de Batista, Mariza diz ter ficado “enlouquecida” com a história do empresário, que no livro chega apenas até a falência do Grupo X. Ela e João Jardim começaram a pensar em um roteiro, mas ao longo do processo ficaram em dúvida sobre a verdadeira força do personagem.

— Foi quando começou a surgir esse cardápio indigesto oferecido pelas investigações da Operação Lava-Jato e as delações premiadas. Começamos a pensar onde esse personagem se colocava diante de outros personagens que começavam a surgir. As pontas foram se juntando, e pensamos que tínhamos de trabalhar melhor. Tudo que líamos ia do trágico ao cômico, do lírico ao épico. Era Shakespeare puro — comparou ela, que ainda não tem ator escalado para viver o protagonista.

Jardim, que atualmente trabalha em uma série sobre amizade para o canal de TV paga GNT e também em um projeto para a Rede Globo, vai além, quando avalia o potencial da história do empresário:

— É um personagem muito ambíguo, por isso não dá para dizer que é um filme para falar mal. Agora, não vai ser exatamente sobre o Eike, mas é um retrato do Brasil. De como o poder público sempre quer se locupletar.

Com o título provisório de “Eike – Tudo ou nada”, o filme, segundo Mariza, será um projeto de grandes dimensões, com parceiros internacionais. Fez um registro para captar cerca de R$ 14 milhões, dos quais 40% viriam de investidores estrangeiros — havia produtores canadenses interessados, segundo ela —e o restante de captações com empresas brasileiras.

— Tive muita dificuldade para captar. Achei que ia ser fácil, por causa da projeção dele no exterior, mas estava equivocada. Muitos empresários e empresas disseram que não queriam associar o nome deles a esse assunto. — disse a produtora.

Com todas as reviravoltas na vida de Batista, Mariza está redimensionando o projeto. Agora, trabalha com um orçamento de R$ 8 milhões para resultar em dois produtos: uma minissérie de cinco a seis episódios e um longa.

O globo, n.30494, 01/02/2017. País, p.4