O Estado de São Paulo, n. 45056, 25/02/2017. Economia, p. B4

Desemprego já atinge quase 13 milhões

 
Daniela Amorim
Maria Regina Silva

 

A taxa de desemprego voltou a bater recorde no início do ano, alcançando 12,6% no trimestre encerrado em janeiro de 2017, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nessa sexta-feira, 24, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O País já tem 12,921 milhões de desempregados, o maior nível da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Há mais 3,302 milhões de pessoas em busca de uma vaga em relação a um ano antes, o equivalente a um aumento de 34,3%. Ao mesmo tempo, 1,748 milhão de postos de trabalho foram fechados. A expectativa é que o nível de desemprego continue em ascensão e que a taxa média de desocupação de 2017 fique em 13,3%, previu o economista Rafael Gonçalves Cardoso, da Daycoval Investimentos. “Segue a tendência clara de distensão do mercado de trabalho”.

A taxa de desemprego só tende a melhorar quando o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrar geração de vagas, acredita o economista Saulo Carvalho, da Kapitalo Investimentos. “O primeiro sinal (de recuperação) será quando o Caged vier positivo”.

Desde o início da crise no emprego, há dois anos, já foram perdidos 2,8 milhões de postos de trabalho no País. “Dá quase a metade da população (da cidade) do Rio”, comparou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A taxa de desocupação praticamente dobrou em dois anos, saltando de 6,8% no trimestre encerrado em janeiro de 2015 para 12,6% em janeiro de 2017. A população desocupada cresceu 91% no período, o equivalente a 6,158 milhões de pessoas a mais em busca de trabalho.

“Cada pessoa que perde o emprego acaba levando mais uma ou duas pessoas para a fila da desocupação com ela. O marido que fica desempregado acaba levando a mulher e o filho que está em idade de trabalhar para procurar emprego também”, disse Azeredo.

Segundo o coordenador do IBGE, a Pnad Contínua até agora não apresenta sinal de que o País esteja próximo do fim desse período de crise e recessão.

Renda. A renda média dos trabalhadores ficou estável no trimestre encerrado em janeiro, em relação a um ano antes. O movimento ocorre porque, embora tenha havido demissão em massa de trabalhadores com salários mais baixos, a média salarial não sobe porque tem descontada a inflação do período.

“Tem demissão no chão de fábrica e na construção. Você tirou do mercado uma parcela considerável de pessoas com rendimento baixo O rendimento médio poderia até subir, mas ele não sobe por conta da inflação”, justificou Azeredo.

O rendimento médio real saiu de R$ 2.047 em janeiro de 2016 para R$ 2.056 em janeiro de 2017. A indústria dispensou 897 mil trabalhadores no período, enquanto a construção demitiu outros 755 mil empregados. Na agricultura, a população ocupada encolheu em 434 mil pessoas em um ano.

Na avaliação de Cardoso, da Daycoval, o ganho real dos trabalhadores permanecerá fraco e inibindo o consumo. “Isso tem implicação significativa nas vendas varejistas. A produção industrial parece que deixou de piorar, mas as vendas do varejo ainda estão afundando”, previu o economista.

 

Alerta

“Desde o começo da crise do emprego, há dois anos, já foram perdidos 2,8 milhões de postos de trabalho.”

“Cada pessoa que perde o emprego acaba levando mais uma ou duas pessoas para a fila de desocupação com ela.”

Cimar Azeredo

COORDENADOR DE TRABALHO E RENDIMENTO DO IBGE

 

 

Renda

A renda domiciliar per capita nominal mensal ficou em R$ 1.226,00 em 2016, segundo cálculos com base na Pnad Contínua