Marcelinho Crivella vem aí 
Caio Barreto Briso 
02/02/2017
 
 
Filho do prefeito será nomeado secretário da Casa Civil depois do carnaval

Ao assumir a prefeitura, em 1º de janeiro, Marcelo Crivella revelou o desejo de ver o filho tomar posse com sua equipe. A justificativa: “Ele esteve comigo nos tantos anos que passei na África e no sertão nordestino. E me acompanhou nas campanhas políticas, sobretudo nessa última”. Seu herdeiro só não estava pronto para assumir um cargo no município porque, segundo Crivella, tinha um compromisso de trabalho no exterior. Mas o prefeito avisou que esperava “contar com seu apoio” em breve. O sonho, agora, está prestes a se realizar. Marcelo Hodge Crivella, o Marcelinho, como é chamado pela família, será nomeado secretário da Casa Civil, como confirmou o prefeito ao GLOBO ontem, no Palácio da Cidade.

A nomeação deve sair apenas em março, depois do carnaval. Mas já está batido o martelo: Marcelinho, de 31 anos, substituirá Aílton Cardoso da Silva, ex-assessor parlamentar de Crivella no Senado, prestes a sair da prefeitura.

— Eu tenho toda a consciência de que ele está preparado para me ajudar. Uma das coisas mais importantes da política é termos ao nosso redor pessoas em quem possamos confiar e que estejam preparadas para assumir grandes desafios. Hoje, o grande desafio da minha gestão é contrariar interesses, porque vivemos num momento de austeridade. Ele sabe disso. Essa é a minha missão e será a dele também — afirmou Crivella, dizendo não se importar com eventuais julgamentos pela decisão. — Críticas sempre existirão e serão até bem-vindas.

Enquanto não deixa o cargo, Aílton ajuda a preparar o sucessor. Antes de qualquer confirmação, no entanto, Marcelinho já vinha frequentando o Palácio da Cidade quase diariamente. O prefeito se dirige a um lugar e Marcelinho vai atrás. Ontem, estavam juntos na posse do novo presidente da RioFilme, Marco Aurélio Marcondes. Um dia antes, foram a Santa Cruz entregar apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida. Durante a campanha eleitoral do ano passado, o filho estava sempre ao lado do pai candidato. Nas eleições de 2008, Marcelinho, então com 23 anos, já afirmava que queria seguir os passos de Crivella: “Gostaria de ser professor, mas pode ser que eu trabalhe com política ou ajude a igreja”, disse, na época, ao GLOBO.

Os dois são parecidos até no jeito de falar, com uma diferença clara de posicionamento — não no discurso, mas no penteado. Crivella joga o topete para a direita; Marcelinho, para a esquerda.

— Não posso dar essa entrevista agora. É um assunto que está sendo discutido com os secretários — esquivou-se Marcelinho ao atender o celular, antes de o pai confirmar que o nomearia.

DE OLHO NA CAMPANHA DE 2018

Marcelinho preferiu tratar o assunto como “uma vontade que chegou até o prefeito através dos secretários e de algumas pessoas”.

— Eu estou à disposição. Se ele achar que é algo que vai ajudar o governo, estou à disposição. Mas acho que a pergunta tem que ser direcionada ao meu pai. Eu não assumo nada, ele que nomeia — disse o futuro secretário.

Consultado sobre o tema pelo GLOBO, o advogado Alberto Luís Mendonça Rollo, especialista em direito administrativo e eleitoral, afirmou que a Súmula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal (STF) permite a nomeação de parentes em cargos de primeiro escalão do Executivo. — O STF já fez essa interpretação em outros casos, tanto em estados quanto em municípios, entendendo que, no primeiro escalão, não é caso de nepotismo. Na última disputa eleitoral, Marcelinho se habituou a aparecer na televisão, pedindo votos para Crivella. Nesse caminho, pai e filho enxergam longe, com olhos em 2018. A intenção de ambos é costurar a candidatura de Marcelinho ao Senado, pelo PRB. Mas, para isso, é preciso convencer o senador Eduardo Lopes, presidente do partido, que era o primeiro suplente de Crivella e herdou sua vaga. É de se esperar, portanto, que um projeto para eleger Marcelinho como senador cause incômodo no PRB. Caso não haja acordo, uma alternativa seria o filho de Crivella tentar uma vaga na Câmara dos Deputados, impulsionado pela gestão de uma importante pasta da prefeitura do Rio. Marcelinho mora há muitos anos nos Estados Unidos. É casado desde 2011 e se formou em psicologia cristã pela Universidade Biola, instituição na Califórnia. Após trabalhar na área de licenciamento de marcas da TV Record, entrou em um novo negócio: a escola de computação gráfica Seven. A rede de ensino mudou de nome e passou a se chamar Red Zero, com unidades no Rio e em São Paulo e cursos na área de design, efeitos visuais e games. Poucos anos atrás, ele oferecia a solteiros a palestra “Como encontrar um companheiro para a vida toda”. Também dava a palestra “A arte da negociação: como sair ganhando sempre”.

 

O globo, n. 30495, 02/02/2017. Rio, p. 16