Título: Grécia quer o euro
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Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2011, Economia, p. 10

Atenas — Dez anos depois de sua adesão à Zona do Euro, a Grécia está arruinada e sofre com a concorrência direta dos Bálcãs e da Turquia. Ainda assim, a maioria dos gregos — até 80%, segundo as pesquisas — rejeita o retorno ao dracma e vê a continuidade do euro como a única saída para a crise. Os dirigentes políticos avisam e as pesquisas confirmam: os gregos querem ficar no bloco da moeda comum. "Nossa posição na Europa não é negociável", afirmou o primeiro-ministro Lucas Papademos. "A Grécia é e continuará sendo uma parte da Europa unida e do euro", reforçou.

O apoio à moeda europeia não diminuiu apesar dos sacrifícios impostos há dois anos pelos credores da Zona do Euro, que colocaram o país em uma profunda recessão e fizeram surgir o desemprego (que atinge quase um em cada dois jovens).

A hipótese da saída do bloco já não é um tabu. A revista britânica The Economist, que tem previsto a quebra da Grécia, organizou pouco tempo atrás uma conferência sobre a questão em Atenas. O ex-presidente francês, Valéry Giscard D"Estaing, muito querido no país helênico por ter ajudado a Grécia a aderir à Comunidade Europeia, qualificou de "grave erro" a decisão de introduzir a Grécia à moeda única e criticou duramente a "gestão demagógica" dos governos gregos.

Apocalipse "No início da dívida, está o fato de que os dirigentes gregos sempre confundiram a noção de crédito com a de renda", garantiu o historiador Nicolas Bludanis. Por essa e outras razões, a tendência é de deslocamento de investimentos para países de fora da Zona do Euro, com sistemas fiscais mais vantajosos e custos de produção mais baixos.

Um dos poucos a pedir a saída do euro, é Costas Lapavitsas, professor de economia na Escola de Estudos Orientais e Africanos na Universidade de Londres, para quem o euro é um problema que permitiu aos países do centro, como a Alemanha, enriquecerem à custa da periferia.

Para Lapavitsas, a Grécia não tem outra opção além de quebrar e sair do euro, impondo um controle sobre os capitais. E os que predizem o apocalipse, encorajando a queda do sistema financeiro, desvalorização do patrimônio das poupanças, hiperinflação e fuga massiva de capital, lembram os terríveis custos que têm levado a sociedade grega a aplicar medidas de austeridade.

O economista Yannis Varufakis, da Universidade de Atenas, acredita, ao contrário, que sair do euro é pior que ficar, porque a inevitável desvalorização do dracma conduziria à perda "massiva do poder" dos mais pobres, cujas receitas e poupanças não valeriam nada, até aos mais ricos que salvarão suas economias.