Indústria reage em dezembro e analistas veem 2017 melhor

Daiane Costa 

02/02/2017

 

 

Após queda de 6,6% em 2016, setor deve se recuperar no 2º semestre

A indústria registrou queda de 6,6% em 2016, o terceiro ano seguido de retração. Em três anos, a produção do setor encolheu 17,9%. O desempenho no final do ano, no entanto, demonstrou uma redução do ritmo de queda, o que, na opinião de especialistas, sinaliza que a crise do setor deve estancar em 2017. Em dezembro, a indústria recuou apenas 0,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi a 34ª taxa negativa consecutiva nessa comparação, mas a menos intensa da sequência.

Em novembro, a atividade industrial já tinha recuado apenas 1,2%, enquanto o ritmo de queda foi bem maior de janeiro a outubro, com a produção caindo, em média, 7,7% ao mês na comparação com mesmo período do ano anterior, de acordo com a consultoria Tendências.

— É preciso ponderar que essas duas quedas mais brandas se deram sobre uma base de comparação muito depreciada, porque novembro e dezembro de 2015 foram meses em que os resultados do setor sofreram por conta do desastre da Samarco e da greve dos petroleiros — comenta Thiago Xavier, economista da Tendências, que, apesar da ponderação, projeta crescimento de 2,2% para o setor em 2017.

Uma melhora que, segundo a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), deve aparecer no segundo semestre.

— Os dois resultados menos ruins do fim do ano não indicam uma retomada em curso neste momento. Mas o ritmo de queda vem reduzindo, e o quadro de emprego do setor já apresentou um crescimento em dezembro. Nossa expectativa é que a crise seja estancada este ano, mas isso vai ficar mais claro no segundo semestre, quando esperase que a economia já tenha reagido — avalia Marcelo Azevedo, economista da CNI.

Pelas projeções da CNI, o PIB do setor deve crescer 1,3% este ano, puxado principalmente por segmentos que não dependem tanto da renda,como alimentos e têxteis.

André Macedo, gerente de Indústria do IBGE, lembra que a base de comparação baixa joga a favor do resultado deste ano, mas está longe de defini-lo:

— Quando minha base de comparação é muito baixa, qualquer movimento de melhora vai jogar esse resultado para o lado positivo. Agora, tudo depende da conjuntura econômica, de como a produção industrial vai caminhar ao longo do ano, das soluções para as incertezas, seja pelo lado dos empresários ou das famílias.

Nos últimos três anos, as quatro grandes categorias do setor registraram quedas de dois dígitos, sendo que dois deles chegaram a quase 40%: bens de capital (39,8%) e bens duráveis (36,8%). Já a produção de bens intermediários caiu 13,3% e a de semi e não duráveis, 10,3%.

Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ainda há muitas incertezas, tanto no cenário internacional quanto no doméstico:

— Frente a três anos de perdas, teremos um flerte com a estabilidade, com boa chance de taxa positiva. Mas não dá para falar em recuperação, não será nada perto de anular a queda dos últimos anos.

 

O globo, n. 30495, 02/02/2017. Economia, p. 18