O Estado de São Paulo, n. 45050, 19/02/2017. Política, p. A9

PMDB apresenta Temer ‘reformista’ em programa na TV

 

Pedro Venceslau


O presidente Michel Temer será o protagonista do primeiro programa de TV do PMDB exibido em sua gestão, que vai ao ar no dia 30 de março. O peemedebista aproveitará o espaço para vender a imagem de “reformista” e exaltar o saque das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), vista como a medida mais popular da sua administração até agora.

A propaganda partidária peemedebista será exibida 20 dias depois da liberação do primeiro lote do FGTS. Segundo a Caixa Econômica Federal, há 18,6 milhões de contas inativas, num total de R$ 41 bilhões. Como muitos cotistas têm mais de uma conta, o governo estima que 10 milhões de pessoas serão beneficiadas.

A avaliação do Planalto e de marqueteiros ligados ao partido é de que a medida é a que tem mais potencial para aumentar a popularidade do governo. A reprovação a Temer subiu de 51% em outubro para 62% em fevereiro, segundo pesquisa do instituto MDA, feita por encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e divulgada na quarta-feira.

“A aprovação ao saque das contas inativas do FGTS é muito grande. No primeiro programa do partido, a ideia é levar confiança ao povo brasileiro”, afirmou ao Estado o publicitário Elcio Mouco, que vai dirigir o programa.

A versão final do roteiro será definida na semana que vem por Temer, pelo senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB, e pelo ministro da Secretaria- Geral da Presidência, Moreira Franco. Ainda não foi definido se o presidente vai aparecer sozinho no comercial, que será exibido em cadeia nacional, ou se será aberto espaço para outros líderes.

 

Nordeste. O PMDB também vai apostar na transposição do Rio São Francisco para tentar melhorar a popularidade do governo na Região Nordeste. No campo econômico, a legenda vai apresentar um “pacote” de notícias positivas, que inclui a queda do dólar e do risco país e a inflação abaixo de 6%.

O presidente Michel Temer escalou Moreira Franco para coordenar a estratégia de comunicação do Planalto e o senador Romero Jucá a do PMDB. A ideia é aproximar a linguagem e alinhar o discurso.

O partido ainda reforçou sua comunicação. Responsável pela campanha vitoriosa de João Doria (PSDB) em São Paulo, o marqueteiro Lula Guimarães foi contratado pela legenda e montou uma equipe para atuar nas redes sociais.

Responsável pela área digital de Doria, Daniel Braga foi contratado pela Fundação Ulysses Guimarães, braço teórico do PMDB, mas atua no Planalto ao lado de Moreira Franco.

 

Nome. Aposta de Jucá para tentar melhorar a imagem da legenda, a mudança de nome de PMDB para MDB, como era o nome original do partido, ainda não prosperou por causa da resistência de Moreira Franco. Aliados do ministro dizem que não é a hora de reforçar o lado “movimento” da sigla, mas de mostrar que ela governa o País e está por trás das reformas.

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Indicado ao STF faz ‘maratona’ no Senado

 

Vera Rosa

 

Apressado, Alexandre de Moraes entrou e saiu de vários gabinetes do Senado, nos últimos dias, com um sapato “ruim” para aquela maratona. Escolhido pelo presidente Michel Temer para integrar o Supremo Tribunal Federal, o ministro licenciado da Justiça era o típico candidato em campanha. Às vésperas da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), marcada para terça-feira, ele distribuiu aos senadores a 32.ª edição de seu best-seller Direito Constitucional e tirou até selfies nos corredores da Casa.

“Sucesso e sorte!”, escreveu Moraes na dedicatória, com pequenas variações, dependendo do grau de proximidade com o parlamentar. Dois seguranças da Polícia Federal e um ajudante que carregava os livros em sacolas acompanharam o indicado no beija-mão pelo Senado.

Moraes andava tão rápido pelo túnel do tempo – como é conhecida a ligação entre o Salão Azul, as salas das comissões e os gabinetes – que repórteres eram obrigados a correr para alcançá- lo. “E olhe que esse sapato é ruim”, disse ele, na terça-feira, abrindo um sorriso quando um jornalista perguntou se aquele preparo físico se estendia ao preparo para a sabatina.

Foi a única resposta dada pelo homem que, à frente da Justiça, sofreu um desgaste após o outro com as rebeliões nos presídios e a crescente onda de violência.

“Só dou entrevista depois da sabatina e da votação do meu nome em plenário”, avisou.

No esforço para demonstrar independência do Planalto, mas também agradar àqueles de quem depende para chegar ao STF, o ministro licenciado foi econômico, ainda, nos comentários sobre a Lava Jato. Seguiu as ordens de Temer, que o mandou fechar a boca a respeito de temas espinhosos.

Mesmo assim, Moraes correu riscos. A portas fechadas, disse ser favorável a restringir o foro privilegiado. Para ele, a prerrogativa deveria alcançar apenas os presidentes da República, da Câmara e do Senado, além do vice e magistrados do Supremo.

“No Brasil, todo mundo faz delação com muita facilidade”, constatou Moraes, na conversa com João Capiberibe (PSBAP), sem adiantar se defende mudanças nesse sistema. “Você não viu como era na época da ditadura”, retrucou o senador.

Se esse novo modelo de foro privilegiado estivesse em vigor, denúncias da Lava Jato envolvendo deputados, senadores e ministros do governo seriam julgadas em primeira instância.

“Eu não concordo. A política é como uma rosa, que também tem espinhos. O parlamentar precisa de proteção no exercício da função. Se ficar à mercê de questões locais, está morto”, reagiu José Medeiros (PSDMT).

O senador é um dos dez parlamentares que participaram de um jantar com Moraes no barco Champanhe, de propriedade de Wilder Morais (PPGO), no último dia 7. Sandro Mabel, assessor de Temer, também bateu ponto ali.

Moraes foi lembrado, naquela reunião, de que o fato de ter advogado para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde outubro, seria explorado contra ele.

Desde então, o pretendente à cadeira de Teori Zavascki – o relator da Lava Jato que morreu em acidente aéreo – repete como mantra que a estrutura jurídica é composta por um tripé, no qual o Ministério Público acusa, o advogado defende e o juiz absolve ou condena.

“Se o indicado para o Supremo fosse Moro (juiz Sérgio Moro, que mandou prender Cunha), haveria aplausos. Se fosse o Janot (Rodrigo Janot, procurador-geral da República), também. Por que há desconfiança em relação ao advogado? Cada um cumpre o seu papel”, argumentou Moraes, de acordo com relato de senadores ao Estado.

 

Vídeos. Avesso a treinamentos como media training, Moraes requisitou os vídeos das sabatinas de Teori e de Edson Fachin na CCJ. Além disso, está lendo os questionamentos que senadores fizeram a Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Carlos Ayres Britto.

“Nós vamos questioná-lo de forma dura, mas pode ficar tranquilo que não faremos com o senhor o que fizeram com o ministro Edson Fachin, porque ninguém merece aquilo”, disse a líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR), quando Moraes a procurou. Era uma referência à sabatina ocorrida em maio de 2015, que durou mais de 12 horas. Fachin é o novo relator da Lava Jato na Corte.

 

Polêmicas. Filiado ao PSDB até 12 dias atrás, quando se desligou do partido, Moraes enfrenta protestos nas redes sociais.

Ex-titular da Segurança no governo de Geraldo Alckmin, o advogado que começou a carreira política no PFL (hoje DEM), chegou a “supersecretário” na gestão de Gilberto Kassab – atual ministro das Comunicações – e migrou para o PMDB coleciona polêmicas. Entre elas, a de copiar trechos de uma obra em espanhol e a de ter defendido o Primeiro Comando da Capital (PCC). “Isso virou um telefone sem fio”, reclamou.

No portal e-Cidadania, mantido pelo Senado, 700 internautas já haviam mandado, até sexta- feira, sugestões de perguntas para a sabatina, a maioria levantando suspeitas sobre a isenção de Moraes para o cargo.

Em sua tese de doutorado, apresentada há 17 anos na USP, Moraes escreveu que detentores de cargos de confiança no Executivo deveriam ser proibidos de ocupar uma cadeira no Supremo, “durante o mandato do presidente da República em exercício”, como revelou o Estado.

Na sua avaliação, o veto evitaria “demonstração de gratidão política” na Corte.

“Fui franco e disse a ele que achava um erro o presidente indicá- lo para o Supremo”, contou o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). “É como se Abraham Lincoln tivesse tirado o comandante das tropas da União na Guerra Civil norte-americana.” Ao se debruçar sobre a história, o senador foi acometido por um “branco”, que não escondeu de Moraes. “Olha, ministro, apesar de ter sido um estudioso daquele período, não me lembro o nome do general de Lincoln”, admitiu, entre risos.

Com a “deixa”, Moraes exibiu seus conhecimentos. “General Grant”, respondeu ele, sem pestanejar, numa alusão a Ulysses Grant (1822-1885). “Isso me impressionou muito”, confessou Cristovam. O senador ainda não sabe, porém, se a lembrança de Grant será suficiente para apoiar o ex-tucano.

“A gente não escolhe ministro do Supremo pela cultura. Se fosse hoje, eu tenderia a votar não.

Mas vamos esperar a sabatina.”

 

Campanha. Indicado à vaga de Teori Zavascki, Alexandre de Moraes percorre gabinetes em busca de apoio e revê gravações de sabatinas anteriores

 

Clima

“Nós vamos questioná-lo de forma dura, mas pode ficar tranquilo que não faremos com o senhor o que fizeram com o ministro Fachin.”

Gleisi Hoffmann (PT-PR)

SENADORA, SOBRE A SABATINA DE FACHIN, QUE DUROU MAIS DE 12 HORAS

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Aprovação de nome pela Casa leva, em média, 20 dias

 

Isadora Peron

 

O tempo entre a indicação de Alexandre de Moraes para o STF e a sua provável aprovação no plenário do Senado deve seguir a média de 20 dias verificada desde a redemocratização. Levantamento feito pelo Estado mostra que não há um cronograma único.

Houve ministros cujos nomes foram aprovados um dia depois da indicação do presidente e outros que levaram até 50 dias.

O processo já foi feito em tempo recorde. Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Sarney conseguiram aprovar nomes indicados para o STF de um dia para o outro, caso do então ministro do STJ Menezes Direito, em 2007. Lula foi o presidente que conseguiu dar mais celeridade às suas indicações. Na média, os oito ministros que escolheu levaram 15 dias para serem aprovados pelo Senado. A presidente cassada Dilma Rousseff foi a que teve mais dificuldades, com média de 28 dias.