O Estado de São Paulo, n. 45054, 23/02/2017. Política, p. A7

Moreira Franco e Jucá fazem confronto público

Discussão entre os dois articuladores políticos do Planalto começou com a reforma da Previdência e chegou ao gabinete de Michel Temer

Por: Vera Rosa e Tânia Monteiro

 

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), protagonizaram ontem um confronto público, escancarando uma disputa travada nos bastidores.

Os dois são articuladores políticos do Planalto e a discussão, que começou com a reforma da Previdência, chegou ao gabinete do presidente Michel Temer.

“Nosso partido não tem tradição leninista”, disse Moreira.

O ministro vinha demonstrando descontentamento com Jucá, presidente do PMDB, por causa de declarações contra a Lava Jato. O estopim, porém, foi uma entrevista ao Valor, na qual Moreira disse que o PMDB não fechará questão sobre a reforma da Previdência porque “contraria tradições do partido”. No jargão do Congresso, fechar questão significa que todos os parlamentares de determinada sigla são obrigados a votar de acordo com a orientação partidária.

A declaração de Moreira foi dada no mesmo dia em que Temer se reuniu com líderes da base e centrais sindicais para convencê- los da importância de aprovar a reforma. Auxiliares do presidente disseram que a afirmação do ministro provocou reação no mercado e funcionou como “sinal confuso” para o Congresso.

Moreira foi além e, perguntado se Jucá falava em nome do governo – quando comparou a Lava Jato à Inquisição e disse ser preciso “estancar essa sangria” –, respondeu que não.

O senador ficou furioso. Combinou com Temer uma resposta para “esclarecer” a parte relacionada à Previdência. Em nota, lembrou que o PMDB não tomou posição a respeito de liberar o voto. “Ao contrário, o partido tem discutido com a bancada da Câmara a possibilidade de fechamento de questão assim como foi feito na votação da PEC que limita gastos públicos.” Depois, Moreira divulgou nota para repetir que o PMDB nunca adotou a prática. “Quando coloquei a questão, foi dentro desse contexto. De um partido que pratica a democracia e, por isso, jamais será leninista”, escreveu.

 

Ataque. Moreira: ‘Nosso partido não tem tradição leninista’