Título: Prudência como guia
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 19/12/2011, Brasil, p. 6

Durante as festas de fim de ano, segundo a PRF, o número de mortes no trânsito sobe em média 30%. A má conservação das estradas %u2014 mais da metade está em condição no mínimo regular %u2014 , a velocidade e os motoristas contribuem para as tragédias

Para ir de uma cidade a outra do Brasil, 96% dos passageiros se deslocam pelas rodovias, de acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A malha rodoviária, no entanto, abriga um risco que atinge não apenas os viajantes, mas também os pedestres: a cada ano, aumenta em 8,5% o número de acidentes. De 2004 a 2010, o crescimento chegou a 60%. Apenas no ano passado, foram 183,3 mil — 7 mil dos quais com mortes. As ocorrências de trânsito letais — a maioria colisões frontais e atropelamentos — ainda se concentram, proporcionalmente, em apenas quatro rodovias federais: a BR-381, a BR-116, a BR-040 e a BR-101. Elas registraram juntas, em 2010, 2.792 ocorrências fatais, que resultaram em 3.359 mortes no trânsito. De acordo com a PRF, o nível de periculosidade dessas pistas se mantém constante e, portanto, transitar por elas exige atenção redobrada especialmente neste mês, quando o fluxo de veículos aumenta em função das comemorações que marcam o fim do ano.

Ainda não é possível confirmar se o número de acidentes nas rodovias federais em 2011 é relativamente maior do que o observado no ano passado. Isso porque, segundo o chefe do Núcleo de Estatística da PRF, inspetor Stênio Pires, o número de acidentes em dezembro pode ser pelo menos 20% maior do que a média registrada no restante do ano — o de mortes 30%. "Em dezembro, existe a soma de duas das maiores festas do país. Além disso, tem mais dinheiro circulante entre a população. Ou seja, com mais festas e mais dinheiro, as pessoas viajam mais. O registro de acidentes e mortes é sempre maior."

Além do fluxo O grande número de veículos não é o único fator apontado para a ocorrência de acidentes. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), as condições de tráfego nas rodovias brasileiras contribuem para as tragédias. O relatório Pesquisa CNT de Rodovias 2011, divulgado no fim de outubro, revela que 57,4% das rodovias federais estão em condições classificadas como péssima, ruim ou regular. Os critérios utilizados para a análise foram a pavimentação, a sinalização e a geometria da via. O estudo também destaca o aspecto econômico dos acidentes. De acordo com a CNT, em 2010, foram perdidos R$ 14,1 bilhões em acidentes rodoviários nas vias federais policiadas — o montante representa 0,4% do PIB de 2010, volume superior ao total investido em infraestrutura de transporte no mesmo ano. Os custos associados aos acidentes incluem, por exemplo, atendimentos hospitalares, os danos materiais aos veículos e os processos judiciais.

"O percentual da malha rodoviária com um grau de deficiência ainda é muito grande. Existe o problema da manutenção da malha e o resultado são rodovias mal dimensionadas", reforça o diretor executivo da CNT, Bruno Batista. O diretor afirma ainda que esses resultados acontecem mesmo em detrimento do crescimento dos gastos nas rodovias federais — no ano passado, esse investimento foi de R$ 10,9 bilhões, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Seis anos antes, ficou em R$ 1,3 bilhões (veja gráfico). "O problema é que, no ano em que o governo mais consegue investir, não existem melhorias nas condições das rodovias. É sinal de que o investimento já está se demonstrando insuficiente e a falta desse investimento está gerando penalidades, que é o numero absurdo de acidentes e mortes nas rodovias", aponta Batista. Segundo o estudo divulgado pela CNT, o número de pontos críticos — buracos grandes, erosão na pista, pontes caídas e quedas de barreiras — aumentou de 109 para 219, de 2010 para este ano.

De acordo com o Dnit, no entanto, não seria possível relacionar diretamente os indicadores de investimento e de acidentes. Por meio da assessoria de imprensa, o órgão informou que o "aumento da frota" de veículos é uma das explicações para o registro crescente das ocorrências. "Baseado nas informações contidas nos boletins da PRF, menos de 1% dos acidentes têm como causa os problemas da rodovia. As principais causas estão ligadas a imperícia, imprudência e problemas mecânicos." A PRF confirmou que, em 2010, o "defeito na via" foi considerado responsável por 1,32% dos acidentes e por 1,02% das mortes.

DF tem a quinta pior estrada No Distrito Federal, 51% das rodovias estão em condições desfavoráveis, segundo a Pesquisa CNT de Rodovias 2011, que analisou 407km (41,8% das rodovias federais e estaduais pavimentadas do DF). A rodovia entre Brasília e Palmas (TO) foi considerada a quinta pior do país. Quanto aos investimentos federais em rodovias no período 2003-2010, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina foram os estados que receberam o maior montante acumulado. Avaliada a destinação de recursos em relação à malha existente, o maior beneficiado foi o Acre, com R$ 174,8 mil/km. No DF foi de R$ 107,5 mil/km enquanto Minas Gerais, que concentra as rodovias mais letais do país, fica com R$ 72,7 mil/km, 13º lugar.