Relator critica anteprojeto de Janot

Julia Lindner/ Daiene Cardoso/ Isabela Bonfim

30/03/2017

 

 

Requião indica que não vai considerar proposta alternativa do procurador-geral da República e quer celeridade na apreciação de seu parecer

 

 

 

O relator do projeto que atualiza a lei do abuso de autoridade no Senado, Roberto Requião (PMDB-PR), deve desconsiderar a proposta alternativa apresentada ao Congresso pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Ao ler seu parecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ontem, Requião criticou as sugestões. Para ele, o texto de Janot “muda tudo para manter tudo como está”.

“Parece que o Ministério Público acordou para o problema.

Embora não tivesse gentilmente participado da discussão quando da elaboração do meu relatório, o Janot assume postura de Tomasi di Lampedusa (escritor italiano) e sugere um projeto que admite excessos de todos os agentes públicos e, admitindo os excessos, tenta um artifício legal descriminalizado. E diz o seguinte: se o excesso for fundamentado, deixa de ser crime”, disse.

Requião defende maior celeridade na apreciação do seu parecer.

“No plenário temos agora a discussão do fim do foro privilegiado, que transformase em um instrumento muito razoável de visão republicana do direito principalmente se ele for acompanhado pela criminalização dos excessos das autoridades”, afirmou o senador.

Ontem, a CCJ aprovou a inversão na pauta para a leitura do parecer de Requião. O senador Antonio Anastasia (PSDBMG), que presidia a sessão, concedeu vista coletiva de uma semana para análise do parecer.

Na prática, a CCJ pode votar o texto na quarta-feira. Na próxima segunda e terça-feira, o presidente do colegiado, Edison Lobão (PMDB-MA), se comprometeu a marcar audiências públicas para discutir o tema.

Após críticas de que a tramitação estaria ocorrendo de maneira açodada, Requião, com o apoio de Anastasia, chegou a sugerir que o projeto fosse votado pela CCJ no dia 19 de abril, mas a data não foi agendada.

Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é contra a atual redação do projeto, defensores da proposta atuaram para acelerar a tramitação.

Ele considera que há uma aliança entre setores da oposição e do governo para “limitar a atuação de quem hoje faz a perseguição do crime”. “Está mais com cara de retaliação do que projeto de lei. Retaliação à atuação do Ministério Público e à atuação da Lava Jato”, disse.

 

Pacote anticorrupção. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encaminhou ontem ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o pacote das 10 medidas de combate à corrupção. Ontem, Janot cobrou celeridade na apreciação da proposta pelo Congresso.

O reenvio ocorre após a devolução do projeto por determinação do ministro do Supremo Luiz Fux. A Secretaria-Geral da Mesa conferiu a lista de apoios ao projeto e validou 1.741.721 assinaturas.

Eunício informou que vai esperar o pacote chegar para decidir a tramitação, mas sinalizou que pode encaminhar para comissões, e não direto ao plenário. 

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45089, 30/03/2017. Política, p. A10.