Governo anuncia corte de R$ 42,1 bi no Orçamento

Adriana Fernandes / Eduardo Rodrigues/ Fernando Nakagawa

30/03/2017 

 

 

Para cumprir meta fiscal deste ano, desoneração da folha de pagamento de 50 dos 54 setores incluídos na medida foi suspensa

 

 

 

Depois de dois adiamentos, numa semana de intensas negociações, o anúncio do Orçamento deste ano foi feito ontem à noite, prevendo um corte de R$ 42,1 bilhões nas despesas da União.

Para chegar a esse cálculo, que deve contribuir para garantir o déficit de R$ 139 bilhões fixado para 2017, o governo vai contar com receitas extras de R$ 10,1 bilhões com a venda de quatro hidrelétricas que pertenciam à Cemig e foram reintegradas ao patrimônio da União, além da suspensão de benefícios fiscais na folha de pagamentos para 50 setores, que renderá mais R$ 4,8 bilhões.

A equipe econômica do governo não pôde contar com o ganho extraordinário, que deve chegar a R$ 8,7 bilhões, com precatórios (pagamento de valores devidos após condenação judicial definitiva) não reclamados por seus beneficiários. Isso foi tentado, até o último momento, para permitir um corte menos profundo. Uma hora antes do anúncio, os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, acompanhados pela advogadageral da União, Grace Mendonça, buscavam no Supremo Tribunal Federal respaldo judicial para contabilizar os precatórios.

Meirelles disse esperar uma redução nos R$ 42,1 bilhões de corte à medida que forem confirmadas receitas extras. Além dos precatórios, o ministro disse esperar também decisão sobre a inclusão de parentes de políticos no programa de repatriação de ativos irregulares mantidos no exterior. Atualmente, o governo prevê receita de R$ 13 bilhões com a regularização, sendo que apenas metade fica nos cofres federais.

O propalado aumento de tributos, que estava sendo avaliado, se resumiu à cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações de cooperativas de crédito. Essa tributação acrescentará aos cofres do Tesouro mais R$ 1,2 bilhão este ano.

 

Tesourada. O corte de R$ 42,1 bilhões, quase um terço do valor que o governo poderia contingenciar, será feito com tesourada de R$ 10,5 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento, uma queda de 28% no que estava programado para este ano. Meirelles minimizou o impacto da redução dos investimentos para a retomada da atividade econômica e disse que o mais importante é cumprir a meta.

Também serão cortados R$ 10,9 bilhões em emendas parlamentares e R$ 20,1 bilhões de despesas nos demais órgãos do Executivo, preservando desembolsos mínimos com saúde e educação. Nos outros Poderes, o corte será de R$ 580 milhões.

Para Oliveira, o corte nas emendas dos parlamentares não provocará traições nas votações importantes para o governo no Congresso, como a reforma da Previdência.

O governo decidiu acabar com o benefício fiscal na folha de pagamento de 50 dos 54 setores incluídos na medida. “Essa medida gerava uma perda fiscal para a União quando era esperado um crescimento rápido para o Brasil”, disse Meirelles. O fim da desoneração vai injetar mais R$ 11 bilhões em 2018. O benefício foi mantido nos setores de construção civil e obras de infraestrutura; transporte metroviário e ferroviário; transporte rodoviário; e comunicações.

“São setores vitais para a manutenção de empregos.” Além das crescentes resistências ao aumento de impostos, a maior preocupação do governo eram as estimativas de receitas extraordinárias passarem pelo crivo rigoroso do Tribunal de Contas da União (TCU). Afinal, foi o órgão de controle que condenou as projeções infladas de Orçamento feitas no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. / COLABOROU BRENO PIRES

 

PARA FECHAR A CONTA

● Combinando novas receitas e cortes de gastos, governo espera cumprir a meta do déficit fiscal

Como cobrir o buraco de R$ 58,2 bilhões

 

Aumento de receitas

R$ 16,1 bilhões

R$ 10,1 bi

COM DEVOLUÇÃO DE 4 HIDRELÉTRICAS (SÃO SIMÃO, JAGUARA, MIRANDA E VOLTA

GRANDE)

R$ 4,8 bi

COM RETIRADA DO BENEFÍCIO DA DESONERAÇÃO DA FOLHA PARA 50 SETORES

R$ 1,2 bi

COM IOF PARA COOPERATIVAS DE CRÉDITO

R$ 20,1 bi

EM ÓRGÃOS DO EXECUTIVO

 

Corte de despesas

R$ 20,1 bi

EM ÓRGÃOS DO EXECUTIVO

R$ 10,9 bi

EM EMENDAS DOS PARLAMENTARES

R$ 10,5 bi

NO PAC

R$ 580 mi

NOS DEMAIS PODERES

 

Dos 50 setores, 4 escaparam do fim do benefício fiscal

● Transporte rodoviário de passageiros (urbano e interurbano)

● Transporte metroviário e ferroviário de passageiros

● Construção civil e obras de infraestrutura

● Comunicação (rádio e TV, serviços de informação e edição)

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45089, 30/03/2017. Política, p. B4.