O Estado de São Paulo, n. 45049, 18/02/2017. Política, p. A8
Velloso recusa Ministério da Justiça
 
Tânia Monteiro
Carla Araújo

 

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso recusou ontem o convite feito pelo presidente Michel Temer para assumir o Ministério da Justiça. Com isso, PMDB e PSDB reabriram a disputa pelo comando da pasta.

Os tucanos operam agora pelo nome do vice-procurador-geral da República, José Bonifácio Borges de Andrada. Ele foi advogado- geral da União no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, sucedendo a Gilmar Mendes, hoje ministro do STF.

O vice-procurador também foi advogado-geral de Minas Gerais, entre 2003 e 2010, quando o senador Aécio Neves (PSDB) era governador do Estado. Temer deve conversar com ele neste fim de semana. Andrada tem o apoio do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Temer, porém, sabe que essa ligação com os tucanos pode atrapalhar a operação. Os peemedebistas estão incomodados com a presença do PSDB no governo – o tucano Antonio Imbassahy assumiu a Secretaria de Governo, antes ocupada por Geddel Vieira Lima (PMDB).

De acordo com dois interlocutores do presidente, com a desistência de Velloso, o PMDB também indicou que pode reivindicar o posto. O partido vinha pleiteando a vaga de Alexandre de Moraes – que se licenciou do Ministério da Justiça depois de ser indicado para o Supremo – e apresentou o nome do deputado federal Rodrigo Pacheco (PMDB-MG). O deputado, porém, perdeu força após virem a público críticas suas à atuação do Ministério Público.

‘Impossibilidade’. Em comunicado oficial, Velloso disse ter informado o presidente sobre sua “impossibilidade de aceitar” o convite. “Não obstante meu desejo pessoal de contribuir com o País neste momento tão delicado, compromissos de natureza profissional e, sobretudo, éticos, levam-me a adotar esta decisão”, afirmou Velloso.

Segundo interlocutores do presidente, o advogado levou em consideração em sua decisão o fato de continuar mantendo as atividades de seu escritório e a pressão da família, que teria apelado ao ex-ministro, que tem 81 anos, para que não assumisse a responsabilidade.

Apesar da antiga ligação com Velloso, auxiliares de Temer disseram que o presidente não gostou da forma como o advogado se portou, ao declarar que Temer queria sua ajuda “para salvar o Brasil”.

O nome do advogado criminalista e amigo de Temer, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, também pode voltar na bolsa de apostas. Mariz, no entanto, disse que não pretende aceitar cargo no governo (mais informações nesta página).

 

 

PONTOS-CHAVE

Temer avalia nomes e tem duas negativas

 

 

Cotado

O jurista Carlos Velloso, amigo do presidente Michel Temer, tinha apoio do senador tucano Aécio Neves (foto) para assumir o Ministério da Justiça.

 

 

Reavaliação

Temer reavaliou a ideia de dar mais poder à Secretaria Nacional de Segurança. O criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira (foto) foi apontado para o posto.

 

 

Recusa

Ontem, Velloso recusou convite de Temer para a Justiça e Mariz afirmou que não iria participar do governo e continuava apoiando o ‘amigo Temer’.