Febre amarela: secretário diz que não há razão para correria 
Elenilce Bottari e Renato Grandelle 
13/03/2017
 
 
Municípios treinam profissionais de postos de saúde para campanha de vacinação

O secretário municipal de Saúde, Carlos Eduardo de Mattos, disse que a vacinação contra a febre amarela será feita durante o ano inteiro e que não há razão para correria. Enquanto aguardam as três milhões de doses da vacina contra a febre amarela previstas para o início da imunização em todo o estado, prefeituras começam a preparar a logística para a campanha, ampliando suas estruturas de atendimento. Na capital, a Secretaria municipal de Saúde iniciará esta semana a capacitação de profissionais das 233 unidades, entre clínicas de família e centros de saúde que participarão do trabalho. A grande preocupação das autoridades é evitar correria aos postos.

— Vamos vacinar durante o ano inteiro. Não há razão para correria — assegura o secretário municipal de Saúde, Carlos Eduardo de Mattos. — Historicamente o município imuniza de 4 mil a 4.500 pacientes ao mês, que são na grande maioria pessoas indo viajar para áreas endêmicas. Mas, de janeiro até agora, a demanda foi de cem mil.

Ontem, a Secretaria municipal de Saúde do Rio anunciou que os 34 postos de saúde vão receber, a partir de hoje, 40 mil doses — um estoque dez vezes maior do que no mês passado.

ESTRUTURA LIMITADA

Durante a campanha que começará em 15 dias, a expectativa é que a capital receba até 1,5 milhão de doses. Segundo a superintendente de Vigilância em Saúde do Rio, Cristina Lemos, o Rio não teria condições para receber todas as vacinas de uma única vez:

— Não existe estrutura para atendimento desse tamanho. Até porque os procedimentos estabelecem limites de aplicações por profissional.

No sábado, a procura pelos postos era tão grande que o médico Augusto Linhares, de 30 anos, e suas filhas Julia, de 11, e Luiza, de 8, tiveram de esperar o atendimento a 79 pessoas no Centro Municipal de Saúde João Carlos Barreto, em Copacabana.

Infectologista da UFRJ, Luiz Antonio Alves de Lima aprova o plano gradual de vacinação anunciado pela Secretaria estadual de Saúde, que pretende vacinar toda a população ao longo do ano.

— O medo de reintrodução da febre amarela existe há pelo menos 20 anos. Pensamos nela sempre que ocorre um surto de dengue, já que o vetor (o mosquito Aedes aegypti) é o mesmo — revela. — Devemos seguir com calma o calendário de vacinação do estado. Se houver algum caso urbano, saberemos em menos de uma semana, já que a doença tem um tempo de incubação extremamente curto.

Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, defende a permanente vacinação da população, mas discorda do projeto seguido pelo poder público:

— Não sei como conseguirão tantas vacinas para contemplar o estado inteiro. Se isso acontecer, outras regiões do país, onde o surto é muito mais grave, ficarão sem imunizantes.

O Ministério da Saúde, porém, assegura que toda a demanda será atendida. No bimestre de fevereiro e março, a Bio-Manguinhos, responsável pela produção do imunizante, entregará 20 milhões de vacinas ao governo federal. As três linhas usadas por Bio-Manguinhos para a produção de vacina para febre amarela já operam em capacidade máxima. Segundo o governo federal, a unidade poderia disponibilizar outra planta para reforçar a fabricação.

De acordo com o ministério, outros estados, além do Rio, já estão vacinando habitantes que moram em zonas fora da área de risco. Kfouri, no entanto, sublinha que a vacinação em larga escala pode gerar problemas:

— A vacina é feita com um vírus vivo, por isso pode provocar efeitos adversos. Um deles, visto em um em cada milhão de habitantes, é que a pessoa desenvolve uma condição semelhante à febre amarela, o que pode resultar até em morte.

A Fiocruz montou em janeiro um setor com profissionais de diversas áreas voltado especificamente para o monitoramento da doença. Uma reunião, que incluirá uma análise da situação do estado do Rio, será realizada na manhã de hoje.

 

O globo, n. 30534, 13/03/2017. Rio, p. 7