O globo, n. 30521, 28/02/2017. 2ª edição, p. 12

Impacto no turismo

Por: Bruno Castello Branco

 

Na semana em que o Senado Federal adiou a votação do Projeto de Lei 186/ 2014, que regulamenta os jogos de azar no Brasil, o Parlamento do Japão aprovou legislação que permitirá cassinos por lá. A reação da indústria foi imediata. Sheldon Adelson, CEO do Las Vegas Sands, anunciou que está disposto a investir US$ 10 bilhões na construção de um cassino resort no Japão. Steve Wynn, CEO da Wynn Resorts, apressou-se em dizer que também quer investir US$ 10 bilhões. E Jim Murren, CEO do MGM Resorts, afirmou que investirá US$ 9,5 bilhões.

No Japão, assim como no Brasil, já se permitem várias formas de jogo, como loterias, apostas em cavalos e pachinko, uma espécie de máquina de pinball com prêmios em dinheiro. Estima-se que o potencial japonês para cassinos seja o segundo maior da Ásia, girando em torno de US$ 30 bilhões/ano, superado apenas por Macau, maior mercado do mundo atualmente, onde cassinos elevaram o PIB de US$ 7 bilhões, em 2002, para US$ 46 bilhões, em 2015.

Espera-se que a definição de número de licenças, localização dos cassinos resorts, modelo tributário, medidas contra lavagem de dinheiro e ludopatias ocorra nos próximos nove meses, e o Japão possa contar com investimentos decorrentes da liberação dos cassinos ainda em sua preparação para os Jogos Olímpicos de 2020.

Diferentemente do Brasil, o Japão está trabalhando concretamente para aproveitar ao máximo os Jogos Olímpicos, atraindo investimentos internacionais e garantindo a sustentabilidade do que vier a ser construído, evitando justamente o que vem acontecendo por aqui: estádios da Copa do Mundo ociosos, registrando prejuízos operacionais significativos, hotéis utilizados nos Jogos fechando as portas e ninguém se habilitando na licitação para operar o Parque Olímpico.

A regulamentação do jogo no Brasil pode reverter isso. Os impactos na indústria do turismo, em particular nos hotéis, seriam enormes. Las Vegas, no meio do deserto, recebe por ano 43 milhões de visitantes. O Brasil inteiro, 6 milhões. Estádios têm condições de abrigar bingos, e o Parque Olímpico pode ser um cassino resort. Aliás, diga-se de passagem, há até um burburinho de que os irmãos Fertitta, que acabaram de vender o UFC e são donos de cassinos nos Estados Unidos, teriam interesse em investir bilhões nisso.

Além do projeto de lei cuja votação foi adiada pelo Senado Federal, há outro pronto para ser votado na Câmara dos Deputados, onde tramita desde 1991 sob o número 442. O Congresso Nacional, ao invés de concentrar esforços simplesmente no necessário ajuste dos gastos públicos, muitas vezes sacrificando direitos adquiridos como a previdência social de milhares de trabalhadores, também deveria tratar com a devida atenção daquilo que pode estimular o crescimento da economia brasileira e aumentar significativamente a arrecadação tributária no país.(...)