WTorre saiu de disputa por propina, diz delator

Julia Affonso / Mateus Coutinho / Ricardo Brandt / Fausto Macedo

02/03/2017

 

 

Edison Coutinho, da Schahin, diz que sócio da construtora Paulo Remy Gillet Neto pediu R$ 18 milhões para desistir de concorrência de obras do Cenpes

 

 

 

Um dos delatores da empreiteira Schahin na Operação Lava Jato, o engenheiro Edison Coutinho declarou à Procuradoria da República que Paulo Remy Gillet Neto, sócio da WTorre, pediu R$ 18 milhões para deixar a concorrência das obras do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobrás, no Rio.

A construção do centro já é alvo de ação penal na Lava Jato.

Executivos da estatal e das empreiteiras OAS, Carioca Engenharia, Schahin, Construbase e Construcap foram acusados formalmente por corrupção e lavagem de dinheiro. O negócio, assinado em 2008, saltou de R$ 850 milhões para R$ 1 bilhão, depois de sucessivos aditivos.

O acordo de delação premiada de Coutinho foi homologado em 8 de fevereiro. Pelo contrato, o engenheiro deverá pagar multa de R$ 500 mil “a ser adimplida em 4 parcelas de, no mínimo, R$ 125 mil, vencendo a primeira em 30 dias da homologação do presente acordo e as demais subsequentemente”.

Em depoimento, Coutinho contou que foi contratado pela Schahin em 2005. Uma de suas atribuições, segundo ele, era fazer o cadastro da empresa junto à Petrobrás, para que a Schahin participasse dos procedimentos licitatórios específicos da estatal.

À Lava Jato, o engenheiro relatou que participava de reuniões “inicialmente no centro do Rio de Janeiro”, na sede de um sindicato próximo à Avenida Graça Aranha, e depois nos escritórios da OAS na capital fluminense e em São Paulo.

De acordo com ele, o objetivo dessas reuniões era organizar o mercado para a divisão das obras no Cenpes, no Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD) e em sedes da Petrobrás em Vitória (ES) e Santos (SP).

Segundo o engenheiro, houve “um consenso” entre os membros do Consórcio Novo Cenpes de “que a única forma de afastar a WTorre da concorrência seria realizando um ajuste de pagamento indevido a ela”. O valor acertado pelo consórcio foi de R$ 20 milhões e coube a Coutinho “a tarefa de ajustar com o representante da W.Torre um pagamento de vantagem indevida para que sua empresa desistisse do certame, de modo que o Consórcio Novo Cenpes se sagrasse vencedor”.

Numa reunião intermediada por Carlos Eduardo Veiga, o Dadado, que seria representante da WTorre, Paulo Remy Gillet Neto teria dito ao colaborador que “a empresa poderia informar à Petrobrás que não teria condições de realizar a obra, desde que, em contrapartida, o consórcio pagasse R$ 18 milhões”.

Coutinho afirmou no depoimento que a oferta inicial foi de R$ 8 milhões, mas Paulo Remy Gillet Neto insistia no valor de R$ 18 milhões. O colaborador disse, então, que o consórcio aceitaria a proposta desde que a WTorre desistisse também de concorrer no certame do CIPD, “apresentando uma proposta de cobertura, o que de fato se concretizou posteriormente”. 

 

 

Valor

R$ 18 mi teria sido o valor da propina negociado para que a WTorre desistisse de participar de concorrência para obras

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45061, 02/03/2017. Política, p. A7.