Temer e família voltam ao Jaburu

Tânia Monteiro 

02/03/2017

 

 

Residência oficial / Presidente não teria se adaptado ao Alvorada; reforma para recebê-los custou R$ 24 mil

 
 

Pouco mais de uma semana depois da mudança para o Palácio da Alvorada, o presidente Michel Temer, a primeira-dama, Marcela, e o filho Michelzinho, de 7 anos, voltaram a morar no Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência.

De acordo com assessores, o presidente não se adaptou ao local porque “achava tudo muito distante e pouco conseguia ver o filho”. Na terça-feira, ao voltar de Salvador, na Bahia, onde passou o carnaval na Base Naval de Aratu, Temer já foi direto para o Palácio do Jaburu com a família.

A mudança para o Alvorada causou polêmica por causa da instalação de uma tela de proteção na varanda do quarto que foi reformado para receber o menino.

A obra foi criticada pelo ex-curador do Alvorada Rogério Carvalho, que classificou a iniciativa como “uma barbaridade deplorável”. Ele disse ao Estado que o Palácio da Alvorada “é um símbolo nacional e não pode ser desfigurado como foi”.

Carvalho lembrou ainda que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama tinha uma filha da mesma idade de Michelzinho quando se mudou para a Casa Branca e não modificou a fachada da residência presidencial americana.

 

Provisório. A instalação da tela de proteção foi autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A permissão, datada de outubro do ano passado, dizia que a instalação é “em caráter temporário” e foi dada por atender a questões de segurança, desde que “nenhum elemento de fixação utilize as superfícies revestidas em pedra (mármore)”.

O ofício que autorizou a obra, de número 336/2016/SA/SEGOV- PR, justifica a sua necessidade por questões de segurança. “A administração do Palácio da Alvorada solicita que seja instalada tela de proteção em nylon no balcão dos quartos do referido Palácio, em sua fachada posterior (...), uma vez que haverá a circulação de crianças naquela área e pode haver risco de ocorrerem acidentes.” Com a saída do presidente e da família do Alvorada, Carvalho defende que a autorização do Iphan para a colocação da tela na varanda seja revertida e a rede de proteção, retirada.

A área onde foi instalada a tela fica no segundo andar do Alvorada, na parte íntima da residência.

Ali há seis quartos, que passaram por mudanças para receber a família de Temer. Além da tela, foram reformados armários do local, ambientes ganharam pintura e móveis foram trocados.

Uma mesa de jacarandá do século 19 e três cadeiras do século 18, que serviam como mesa de refeição mais íntima para a ex-presidente Dilma Rousseff, foram retiradas da suíte presidencial. A reforma custou R$ 24.015,68, segundo informou a Secretaria de Governo.

Uma curiosidade do Alvorada é que os aposentos íntimos presidenciais têm duas suítes, uma para o presidente e outra para a primeira-dama – o Palácio foi construído no governo de Juscelino Kubitschek (1956- 1961), e ele e dona Sarah não dormiam no mesmo quarto.

 

Manutenção. De acordo com nota do governo, o Palácio da Alvorada não passou por reformas para receber a família Temer. “Como todo prédio público tombado, o Alvorada recebe periodicamente serviços de manutenção e reparos. Os últimos envolveram pintura geral do prédio, salas, pisos e reparos em armários. Da mesma forma, o Palácio do Jaburu passa por manutenção periódica. Reparos estão sendo feitos na parte elétrica, de marcenaria e refrigeração”, informa a nota.

Temer, como vice-presidente, sempre morou no Palácio do Jaburu. Sua família, no entanto, ficava em São Paulo. Em outubro, após assumir definitivamente o governo, decidiu que a família moraria com ele em Brasília, preocupado com os protestos na porta de sua casa, em Alto de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista.

Com o fim do semestre escolar, Marcela, Michelzinho, a sogra de Temer, Norma, e o cachorro Thor mudaram para Brasília.

Mas o presidente resistia a morar no Alvorada porque o achava “muito frio” e “não parecia uma casa comum”.

Dilma Rousseff deixou o local no dia 6 de setembro do ano passado.

Antes disso, Temer e a primeira- dama usavam o local apenas para recepções, reuniões de trabalho e jantares ou almoços de trabalho. Marcela Temer, que chegou a ter preparado um gabinete de trabalho no terceiro andar do Planalto, a poucos passos do gabinete do marido, preferia despachar em um gabinete montado para ela no Alvorada.

Na sexta-feira, quando Temer e a família foram para Salvador, a mudança de volta foi feita e, na terça-feira, quando eles desembarcaram de volta à capital, já seguiram novamente para o Jaburu.

Tanto o Alvorada como o Planalto já haviam sido alvo de polêmica no fim do ano, quando o governo Temer concordou em devolver 48 obras de artes que já faziam parte do patrimônio dos palácios, mas que pertenciam originalmente ao Museu Nacional de Belas Artes, embora estivessem em Brasília havia mais de 45 anos. 

 

 

Tela. Rede de proteção foi colocada no Alvorada, com autorização do Iphan, para a segurança de Michelzinho

 

Jaburu. Família preferiu continuar no antigo palácio; mudança de volta foi feita na sexta

 

 

Símbolo

“(O Palácio da Alvorada) é um símbolo nacional e não pode ser desfigurado como foi.”

Rogério Carvalho

EX-CURADOR DO PALÁCIO DA ALVORADA

 

“(A instalação da rede de proteção no Alvorada) é em caráter temporário.”

PERMISSÃO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN) PARA MUDANÇAS NO PALÁCIO PARA ATENDER A QUESTÕES DE SEGURANÇA

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45061, 02/03/2017. Política, p. A8.