Valor econômico, v. 17, n. 4219, 22/03/2017. Brasil, p. A5

Consulta ao BNDES cai 21% no bimestre

 

Alessandra Saraiva

 

Em meio às críticas do empresariado de que resiste em conceder crédito, o BNDES registrou em fevereiro o mais baixo volume de pedidos de financiamento em quase 14 anos. As consultas, primeiro passo para pedido de empréstimo e "termômetro" para medir o interesse do empresariado para investir, somaram R$ 4,428 bilhões em fevereiro, em valores atualizados.

O montante é o mais baixo desde abril de 2003 (R$ 3,383 bilhões), 16,1% inferior ao de janeiro (R$ 5,278 bilhões) e 27,3% menor que o de fevereiro de 2016.

O desempenho do banco no primeiro bimestre foi divulgado ontem. As consultas somaram R$ 9,689 bilhões no primeiro bimestre. Caíram 21% em relação ao mesmo período de 2016.

Os desembolsos também mostraram queda, tanto na comparação mensal quanto na bimestral ante igual período de ano anterior. Em fevereiro, atingiram R$ 5,307 bilhões 11,4% inferior ao de fevereiro de 2016, quando somou R$ 5,991 bilhões, mas 11,8% acima de janeiro (R$ 4,745 bilhões). No primeiro bimestre houve queda de 16% nas liberações ante igual bimestre em 2016.

Para o diretor da Área de Operações Indiretas e Comércio Exterior do BNDES, Ricardo Ramos, há sinais, nos números do bimestre, que apontam para melhora na procura por crédito para os próximos meses.

Ele citou melhora na linha Progeren, para capital de giro das empresas, que totalizou desembolsos de R$ 1,247 bilhão no primeiro bimestre do ano, 276% acima de igual bimestre. Houve também aumento nas aprovações da linha Finame, voltada para aquisição de bens de capital. No primeiro bimestre, as aprovações foram de R$ 2,46 bilhões, alta de 35% em relação ao mesmo período de 2016 (R$ 1,82 bilhão). Em fevereiro o Finame liberou R$ 1,25 bilhão, aumento de 32% em relação a fevereiro de 2016 (R$ 945 milhões).

Ramos explicou que, pela experiência do banco em movimentos de retomada da economia, os primeiros sinais de reaquecimento não ocorrem nos dados gerais de consulta, e sim na área de vendas. "E o que melhora mais rápido, primeiro, é a área de máquinas e de equipamentos", afirmou.

O diretor do BNDES comentou que a indústria de uma maneira geral opera com elevada capacidade ociosa. Os pedidos de empréstimo em operações diretas normalmente são voltados mais para grandes investimentos, como novas fábricas, por exemplo. Esse tipo de intenção de investimento realmente não parece estar no radar atual do empresariado, devido exatamente à capacidade ociosa elevada, argumentou.

Ramos observou que os empresários já começam a fazer pequenos investimentos pontuais, com o objetivo de elevar produtividade via compra de máquinas e equipamentos ou acesso a capital de giro. É o que mostraram os números do banco no primeiro bimestre.

Ele lembrou que, quando um crédito é aprovado no Finame, a liberação é rápida. Em menos de 30 dias o solicitante recebe o recurso. "Creio que há melhorias pontuais de produtividade", afirmou. "Já existem alguns sinais de melhora. Não é uma afirmação peremptória. Mas existe sinal de que alguma coisa acontece."

Apesar dessa sensação de retomada, todas as principais fases de operação de crédito do BNDES mostraram recuo no primeiro bimestre ante igual período de 2016. Além de consultas e desembolsos, os enquadramentos mostraram recuo de 28%, para R$ 8,059 bilhões. As aprovações tiveram queda de 23%, para R$ 7,037 bilhões.

No caso dos desembolsos, a retração nas liberações foi mais uma vez concentrada na indústria. O recuo nas liberações para o setor industrial foi de 47% ante o primeiro bimestre de 2016, somando R$ 1,878 bilhão nos primeiros dois meses deste ano.