Delator da Odebrecht relata caixa 2 após pedido de Aécio

Beatriz Bulla / Valmar Hupsel Filho / Fausto Macedo / Ricardo Galhardo

03/03/2017

 

 

TSE. Ex-presidente da construtora do grupo afirma em depoimento à Justiça Eleitoral que repassou R$ 9 mi a políticos aliados e ao marqueteiro do tucano na campanha de 2014

 

 

 

O ex-presidente da Construtora Odebrecht Benedicto Júnior, um dos delatores da Operação Lava Jato, disse ontem em depoimento ao ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que na campanha de 2014 repassou R$ 9 milhões a políticos do PSDB e do PP e ao marqueteiro tucano a pedido do então candidato à Presidência Aécio Neves – presidente nacional da sigla. Segundo Benedicto, a doação foi feita via caixa 2.

Ele não disse que se encontrou ou se tratou pessoalmente com Aécio sobre as doações. A audiência, realizada na sede do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, no Rio, faz parte da Ação de Investigação Judicial Eleitoral aberta a pedido do PSDB contra a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer por suspeita de abuso de poder econômico na campanha presidencial.

Questionado por advogados que compareceram à sessão, Benedicto relatou que R$ 6 milhões foram repassados para Antonio Anastasia (PSDB) – que foi eleito senador em 2014 –, para o ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB) – que concorreu ao governo de Minas – e Dimas Fabiano Toledo Júnior (PP) – eleito deputado federal e filho do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo. Os outros R$ 3 milhões, ainda segundo o expresidente da Construtora Odebrecht, foram pagos ao publicitário Paulo Vasconcelos, marqueteiro de Aécio na campanha presidencial.

O combinado, segundo o executivo, era um pagamento no total de R$ 6 milhões para Vasconcelos, mas só foi possível repassar a metade. Aécio e Anastasia negaram qualquer irregularidade na campanha de 2014 .

O ex-executivo da Odebrecht – conhecido na empreiteira como BJ – não pôde dar mais detalhes. Ele foi advertido pelo ministro de que as doações ao PSDB são objeto estranho à investigação.

Benedicto disse que não tinha ciência de doações à campanha nacional, pois cuidava apenas de doações estaduais.

Segundo testemunhas do relato do ex-executivo, ele afirmou que não poderia dizer se os pagamentos foram realizados em dinheiro.

Um advogado o questionou sobre a forma das doações.

Ele admitiu repasses não contabilizados, o caixa 2. Disse que, em geral, são feitos via caixa 1, ou caixa 1 por terceiros – citou a cervejaria Itaipava que segundo o empreiteiro Marcelo Odebrecht era usada como “laranja” para repasses a políticos.

“Quando é por caixa 2 como é feito o pagamento?”, perguntou um outro presente à sessão.

“É dinheiro, em espécie”, respondeu Benedicto.

 

Marcelo. Anteontem, em Curitiba, também em depoimento na Justiça Eleitoral, Marcelo Odebrecht disse que Aécio pediu R$ 15 milhões às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial de 2014. Segundo relatos, Marcelo Odebrecht disse que no primeiro momento se recusou a atender ao pedido sob a alegação de que já teria feito doações a Aécio nas fases de campanha e pré-campanha.

O tucano, então, solicitou recursos para aliados e ficou definido que o superintendente da Odebrecht em Minas Gerais Sérgio Neves ficaria responsável por viabilizar os repasses por parte da empreiteira e Oswaldo Borges da Costa Filho, ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codeminas) por parte do senador mineiro.

Sérgio Neves é um dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht que fizeram delações premiadas na Operação Lava Jato. Borges da Costa Filho é apontado como homem de confiança de Aécio durante a passagem do tucano pelo governo mineiro.

Conforme pessoas que acompanharam o depoimento, Marcelo Odebrecht não especificou se os R$ 15 milhões seriam repassados em forma de doações eleitorais contabilizadas ou caixa 2.

As perguntas sobre as doações a Aécio foram feitas pelo advogado de Dilma na ação no TSE, Flávio Caetano.

 

Citado. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves; ele nega irregularidade na campanha

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45062, 03/03/2017. Política, p. A4.