Filas e problemas no 1º dia de saque das contas inativas do FGTS

Pollyanna Brêtas, Gabriela Valente, Geralda Doca e João Sorima Neto 

11/03/2017

 

 

Trabalhadores relatam falta de informação. No país, 1.841 agências abrem hoje

No primeiro dia de saque das contas inativas de FGTS, muitos trabalhadores ficaram sem o dinheiro por problemas de cadastro e sistema. Parte das agências abre hoje. No primeiro dia em que os brasileiros puderam sacar os recursos de suas contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), os trabalhadores encontraram agências da Caixa Econômica Federal lotadas, com filas que, no Rio, chegavam a durar três horas. E muitos saíram sem conseguir sacar os recursos, por inconsistências no cadastro ou no sistema. Segundo balanço divulgado pela Caixa, até às 10h, houve 700 mil saques das contas inativas. Ao todo, foram resgatados R$ 300 milhões nas primeiras horas da abertura do prazo para saque. Hoje, 1.841 agências da Caixa em todo o país estarão abertas exclusivamente para os saques das contas inativas.

Segundo a Caixa, do universo de 4,8 milhões de trabalhadores com aniversário em janeiro e fevereiro — que têm direito a sacar os recursos nesta primeira etapa, iniciada ontem— cerca de 1,9 milhão de pessoas receberam o crédito diretamente na poupança ou na conta-corrente.

Nas filas, porém, não faltaram problemas. As principais queixas vinham de trabalhadores com mais de uma conta inativa. Ingrid Pereira, de 34 anos, tinha direito a sacar de três contas, mas só conseguiu pegar os recursos de duas, nos valores de R$ 368 e R$ 226. O saldo da terceira conta, de mil reais, não pôde ser resgatado. A auxiliar de saúde bucal reclamou do desencontro das informações recebidas na agência. Ela fez uma verdadeira peregrinação, enfrentando três filas diferentes.

Primeiro, um funcionário da Caixa disse que o valor não estava disponível e pediu que ela voltasse no fim de abril. Outro atendente deu a seguinte explicação: a empresa tentou movimentar o dinheiro dela por algum motivo, então a gerência do FGTS teria que liberar o valor, mas esse processo demora. Por isso, orientou que a trabalhadora confira, semanalmente, se o valor está liberado.

— Estava contando com esse dinheiro, porque fiquei desempregada por um tempo e tenho empréstimos para pagar — disse Ingrid, que chegou à agência às 7h.

A divergência entre os valores que apareciam no site e o dinheiro disponível também foi uma reclamação constante. A artista plástica Ivete Dias Maia, de 57 anos, foi orientada pelos funcionários da Caixa a voltar depois. No autoatendimento, era possível ver o valor das contas inativas, mas os recursos não puderam ser sacados, e os funcionários do banco não deram explicações sobre o problema.

— Disseram que tenho que voltar daqui a dois dias, sem justificativa, sem nada. Isso não está acontecendo só comigo — disse.

A Caixa informou que foi registrada uma instabilidade no sistema de 10 a 15 minutos pontualmente em algumas agências.

Na agência de Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, a autônoma Sueli Souza, de 51 anos, depois de 40 minutos em uma fila, foi instruída a sacar o dinheiro de uma de suas contas no caixa eletrônico, mas sem saber quanto poderia retirar:

— Disseram que eu precisava tirar a xerox da carteira de trabalho para regularizar a situação de uma conta.

Na porta da agência, um funcionário da Caixa fazia uma triagem dos trabalhadores. Ele dizia que, sem a carteira de trabalho, seria “impossível” realizar o atendimento. Ao ser lembrado pela reportagem de que não era obrigatório apresentar a carteira, ele se justificou:

— Imagina se deixo o cliente entrar sem a carteira, ele passa três horas esperando para ser atendido e há alguma inconsistência que precisa ser resolvida com a carteira de trabalho? Vai querer me bater — revelou o funcionário, que não quis se identificar.

A Caixa disse que reforçou com a equipe que não é obrigatório apresentar a carteira de trabalho para atendimento. O documento, segundo o banco, só é necessário para saques acima de R$ 10 mil. Em todos os todos os casos, o trabalhador precisa apresentar documento de identificação com foto e o número do PIS.

Em São Paulo, houve muitas filas, especialmente no Centro. Muita gente madrugou, chegando às 6h, duas horas antes da abertura. Mas, por volta das 9h, a espera não passava de 20 minutos.

A vendedora autônoma Daiane Sousa dos Santos, de 30 anos, conseguiu retirar R$ 6 mil, em pouco mais de 20 minutos. Como está com as contas em dia, ela vai aplicar o dinheiro do FGTS em uma caderneta de poupança:

— Será minha reserva financeira, mas rendendo um pouco mais na poupança, com a vantagem de poder sacar quando eu precisar.

 

O globo, n. 30532, 11/03/2017. Economia, p. 19