Rio amplia vacinação 

Mariana Alvim

11/03/2017

 

 

Sem nenhum caso da doença, estado decide imunizar toda a população por precaução

Rodeado por três estados com casos suspeitos e confirmados de febre amarela, o Rio de Janeiro passará a recomendar a vacina contra a doença para todos os municípios em seu território. Segundo revelou ao GLOBO o secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, o Ministério da Saúde garantiu três milhões de doses para uma etapa inicial em todo o estado, prevista para começar em 15 dias. O governo estadual pretende vacinar toda a população ao longo do ano, incluindo a capital — o que requer aproximadamente 12 milhões de doses de vacina no total. Teixeira Júnior classifica a decisão como uma medida de prevenção, uma vez que não há notificações da doença no estado.

— Estamos seguindo com uma estratégia que vem sendo positiva nas regiões Noroeste e Norte do estado. Vamos estender para todo o Rio de Janeiro a vacinação, para que a gente continue não tendo a entrada da febre amarela. O Rio não pode ser uma ilha e está rodeado por estados que têm registros da febre amarela. O fluxo de pessoas que viajam é grande. A população pode manter a tranquilidade, é uma medida preventiva — assegurou o secretário.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, esteve na quinta-feira no Rio, onde os detalhes da ampliação da vacinação foram acertados. O governo estadual pediu também que a imunização passe a integrar o calendário vacinal do Rio de Janeiro permanentemente — antes do surto deste ano no país, o território fluminense estava fora da área com recomendação da vacina.

BLOQUEIO EM 30 MUNICÍPIOS

De acordo com Teixeira Júnior, a Fundação Oswaldo Cruz já foi comunicada sobre a ampliação, e o próximo passo é comunicar os municípios. Os governos defendem um parcelamento na administração das doses a serem enviadas, uma vez que a vacina exige refrigeração, armazenamento e tratamento adequados.

Desde o final de janeiro, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) está recomendando a vacinação em municípios na divisa do território fluminense com Minas Gerais e Espírito Santo — os estados concentram a maior parte dos casos suspeitos no país, com 1.325 das 1.456 notificações, de acordo com o último boletim de febre amarela no país, divulgado pelo Ministério da Saúde na quarta-feira. Em 22 de fevereiro, a área de bloqueio passou a incluir 30 municípios fluminenses.

Com a ampliação da vacinação para todo o estado, a Região Metropolitana do Rio representará o maior desafio para a rede de saúde. O secretário municipal de Saúde, Carlos Eduardo de Mattos, já seu reuniu com o governo estadual e acredita que a cidade está preparada para imunizar toda a população.

Conforme mostrou O GLOBO em fevereiro, os postos de saúde do município foram alvo de intensa procura pela vacina, levando à formação de filas, falta de doses e distribuição de senhas. Muitos dos cariocas que lotaram os postos não tinham recomendação para vacina — indicada, na época, apenas para moradores ou pessoas com viagem marcada para áreas de risco. Mas para o secretário municipal, a cidade está preparada para imunizar de forma progressiva toda a população:

— De uma vez, nenhum sistema conseguiria vacinar 6,5 milhões de pessoas. Mas de forma escalonada e segura, estamos preparados. Nós sempre aplicamos a vacina da gripe, por exemplo. E em janeiro e fevereiro aplicamos 100 mil doses de vacina de febre amarela, enquanto a média mensal era de 4,5 mil — afirma Carlos Eduardo de Mattos.

Por enquanto, os casos da doença confirmados no Brasil são do tipo silvestre, ou seja, ainda não chegaram às cidades. No país, os óbitos somam 241 notificações, com 127 casos confirmados e oito descartados. A taxa de letalidade entre os casos confirmados foi de 33,5%.

Os macacos, hospedeiros do vírus, funcionam como uma sentinela da presença da febre amarela em uma região. No fim de fevereiro, quatro macacos foram encontrados mortos em Campos dos Goytacazes, mas análises ainda estão sendo feitas para verificar a causa do óbito.

 

O globo, n. 30532, 11/03/2017. Sociedade, p. 22