Lava-Jato provoca strike na política fluminense

Maiá Menezes

30/03/2017

 

 

Desenrolar das investigações deixa disputas de 2018 com rumo incerto

A tsunami chegou ao órgão regulador das contas do estado. E caminha a passos largos rumo à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Uma pororoca de crises jamais vivida nessa intensidade no Rio. E olha que não foram poucas. É o auge de uma insolvência administrativa, em que o presidente da Alerj, Jorge Picciani, levado coercitivamente a depor, vinha se apresentando como o negociador da dívida do Rio com a equipe econômica. Nas mãos dele estão também soluções legislativas para tentar impedir o Rio de entrar no abismo econômico que se avizinha.

 

Ecos da tal ventania que vem sacudindo a República. A Lava-Jato ramificou e frutificou no estado. E mexeu com estruturas arraigadas há décadas. Conselheiros são indicações políticas. Aparentemente, com ligações estreitas a esquemas já incorporados à inacreditável rotina de desvios do poder público.

Quando a naturalização do erro se incorpora a um órgão fiscalizador, algum limite se extrapola. Mas um outro cenário se desenha: conhecer o absurdo, se comprovado o escândalo, é o primeiro passo para alguma transformação. Nada será como outrora. E o primeiro e óbvio efeito colateral: o PMDB, partido que surfava na política fluminense, se fere na origem, com suspeitas sobre o chefão da legenda no estado, já chamuscada pelos nomes nacionais envolvidos na Lava-Jato, e com a prisão de conselheiros que saíram da costela do partido. O ano de 2018 se torna um incerto e intrigante futuro. E 2017, um ainda mais nebuloso cenário para o Rio.

 

 

 

AS SUSPEITAS SOBRE CADA UM

JORGE PICCIANI. O presidente da Alerj foi alvo de condução coercitiva na operação O Quinto do Ouro. O deputado estadual foi levado para depor coercitivamente ontem, e os investigadores suspeitam que ele organizava a distribuição de propinas do Fundo de Modernização do Tribunal de Contas do Estado.

LUIZ FERNANDO PEZÃO. Contestado por aliados e com baixa popularidade devido a crise financeira do estado, o governador pode ter seus problemas agravados por estar entre os políticos que serão investigados em função da delação de ex-executivos da Odebrecht. Em outra ação, o TRE-RJ chegou a cassar seu mandato.

SÉRGIO CABRAL. Governador do Rio de 2006 a 2014, o político fluminense foi preso em novembro do ano passado, acusado de liderar uma organização criminosa que desviou R$ 224 milhões em contratos de obras no estado. O Ministério Público Federal (MPF) descobriu que ele ocultou cerca de US$ 100 milhões no exterior.

MOREIRA FRANCO. O ministro está entre os nove colegas de Esplanada dos Ministérios que a Procuradoria-Geral da República quer investigar por conta da delação dos ex-executivos da Odebrecht. Quando era titular da Secretaria de Aviação Civil, ele teria pedido propina por obras no aeroporto do Galeão.

EDUARDO CUNHA. Envolvido no escândalo de cobrança de propinas na Petrobras, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi cassado pelos colegas e acabou sendo preso por ocultar dinheiro de propina no exterior e usar o mandato para extorquir empresários. É alvo de outros inquéritos de delações da Lava-Jato.

RODRIGO MAIA. Segundo delação de ex-executivo da Odebrecht, o presidente da Câmara recebeu R$ 500 mil para campanha em 2010 (para deputado) e mais R$ 100 mil em 2012 (para a prefeitura do Rio). Os pagamentos seriam em troca do apoiar à MP 613, de interesse da empreiteira.

EDUARDO PAES. Prefeito do Rio entre 2008 e 2016, o peemedebista não era alvo das investigações da Lava-Jato e ainda era o político fluminense com melhor futuro político entre seus pares, mas teve seu nome incluído na lista dos pedidos de investigação do procurador-geral Rodrigo Janot.

ANTHONY GAROTINHO. Figura polêmica da cena política fluminense, o ex-governador e ex-deputado Garotinho foi preso em novembro do ano passado acusado de compra de votos na eleição de Campos dos Goytacazes, onde era secretário de Governo. O TSE revogou sua detenção.

O globo, n.30551 , 30/03/2017. País, p.6