Silvia Amorim e Maria Lima
07/03/2017
-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), assumiu em público ontem que quer se candidatar ao Palácio do Planalto no ano que vem. A declaração foi feita em um almoço com empresários na capital paulista num momento em que outros concorrentes à vaga, como os senadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), enfrentam momentos políticos difíceis.
Serra deixou o cargo de ministro das Relações Exteriores no mês passado alegando questões de saúde. Ele e Aécio são citados por delatores da Odebrecht nas investigações da Lava-Jato.
— Se disser que não quero ser (candidato), não é verdadeiro — disse Alckmin, ao responder à pergunta de um convidado do evento.
Para não acirrar mais a disputa interna, o tucano evitou se estender sobre o assunto e logo retomou o discurso protocolar de que a escolha do presidenciável precisa ser uma decisão partidária. Isso está previsto para ocorrer somente no próximo ano.
— Eleição para cargo majoritário não é vontade pessoal. É fruto de vontade coletiva — disse o governador de São Paulo.
RECADO DO PREFEITO
Nas últimas semanas, um novo nome entrou nas especulações tucanas para 2018. Com menos de cem dias de governo, o prefeito de São Paulo, João Doria, passou a ser apontado como candidato viável para a eleição presidencial por estar com a popularidade em alta e não ser reconhecido como político tradicional.
Ontem, Doria tentou afastar os rumores de que poderia concorrer à eleição em 2018 para presidente e declarou apoio mais uma vez ao padrinho político.
— Quero deixar claro que num futuro vindouro, ainda que não seja o momento para falar disso, a posição de João Doria como cidadão, brasileiro e eleitor é que Geraldo Alckmin será meu candidato à Presidência da República. Que nenhuma dúvida possa existir sobre essa minha decisão — disse Doria.
Ele fez uma passagem rápida pelo evento do qual Alckmin participou apenas para “deixar o recado”. O prefeito repetiu elogios que sempre faz a Alckmin como “homem correto, bom gestor e transparente” e completou que fará “tudo que puder” para que o PT não retorne ao governo federal.
Aécio Neves buscou minimizar o movimento dos paulistas, mas deixou claro que para ele essa é uma discussão fora de hora:
— No momento correto o partido estará unido em torno de quem tiver melhores condições de vencer as eleições. Nesse momento, nossas energias devem estar concentradas na recuperação da economia e dos empregos no país e na superação da grave crise social, esforços esses para os quais o governador Alckmin e o prefeito Doria têm dado enorme contribuição
Tucanos ligados a Aécio atribuíram as declarações de Alckmin e Doria a um movimento dos paulistas para reafirmar o compromisso de apoio do prefeito a uma eventual candidatura do governador à Presidência.
Os aecistas avaliam que, diante da popularidade de Doria, que está aproveitando bem sua capacidade de comunicador, o prefeito sentiu necessidade de acalmar seu criador.
— Esse é um movimento interno do PSDB de São Paulo. Como o Doria vem crescendo muito, correndo solto nesse ambiente propício aos outsiders, ele resolveu reafirmar seu compromisso de apoiar o Alckmin para afastar especulações de que ele seria o candidato a presidente. O Doria tem um compromisso com o Geraldo e achou por bem explicitar isso para acabar com as especulações. Na hora H , Fernando Henrique, Aécio, Serra, Geraldo e Doria vão se sentar e fazer a coisa certa. Ninguém ali é doido a ponto de rasgar nota de US$ 100 — avaliou o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).
FRAGILIDADE DE SERRA E AÉCIO
Um tucano fora do eixo São Paulo-Minas avaliou as declarações de Alckmin e Doria mais como um ajuste de discurso entre os dois do que algo com vista à disputa interna para 2018.
— O Doria ficou mais em evidência que o Geraldo. Ele precisou reafirmar que é aliado e não um competidor .
Os aecistas rejeitam a tese de que os paulistas aproveitaram um momento de fragilidade política de Aécio e de Serra, alvos de denúncias na Lava-Jato, para anunciarem publicamente a disposição de Alckmin, com o apoio de Doria, em disputar a vaga de candidato a presidente.
— Não acredito. É cedo demais para se fazer qualquer previsão. Muita água vai rolar, mas estou convencido de que seguiremos unidos em 2018 — disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
“A posição de João Doria como cidadão, brasileiro e eleitor é que Geraldo Alckmin será meu candidato à Presidência”
João Doria
Prefeito de São Paulo
O globo, n. 30528, 07/03/2017. País, p. 4