Aliado de Cunha vira líder do governo no Congresso

Júnia Gama 

05/03/2017

 

 

Indicação de André Moura tenta fortalecer base aliada

Com a intenção de amarrar os votos da sua base aliada no Congresso para viabilizar a aprovação da reforma da Previdência até o meio deste ano, o presidente Michel Temer bateu o martelo ontem pela nomeação do deputado André Moura (PSC-SE) como novo líder do governo no Congresso. O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), foi convencido a deixar a liderança do governo no Congresso para dar o espaço a Moura e passará a ser líder do governo no Senado.

A decisão foi oficializada após reunião de cerca de duas horas, no sábado, entre Temer, Jucá, Moura e o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, no Palácio do Planalto.

A composição foi pensada para garantir o máximo possível de apoio de deputados e senadores no Congresso à aprovação da reforma da Previdência no calendário desejado pelo governo, até a metade deste ano. Temer tem enfrentado resistências em sua base aliada, e até mesmo em seu partido, o PMDB, sobre o assunto.

Quando André Moura perdeu o cargo de líder do governo na Câmara, na semana passada, para Aguinaldo Ribeiro (PPPB), o grupo político do qual faz parte, o centrão, chegou a ensaiar uma rebelião e sinalizar com uma postura de independência em relação ao governo.

Apesar de pertencer a um partido nanico, Moura foi um dos mais próximos aliados do deputado cassado Eduardo Cunha na Câmara, o que explica parte de sua influência junto ao governo Temer. Nas expectativas do Palácio do Planalto, a nomeação de Moura como líder do governo no Congresso deve ajudar a reverter este quadro de distanciamento do centrão.

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ESCOLHA “PACIFICA” CÂMARA

Ontem, em conversas com aliados, o deputado disse que a escolha “pacifica” a base na Câmara. O discurso é oposto ao que pregou junto a interlocutores quando foi retirado da liderança do governo e teve uma sinalização de que poderia se tornar líder da Maioria na Casa, um cargo visto como sendo de menor relevância, e apenas “simbólico”.

A liderança do governo no Senado ficou vaga com a saída do tucano Aloysio Nunes, nomeado por Temer ministro das Relações Exteriores na última quinta-feira. Com isso, o presidente mexeu as demais peças no tabuleiro para fazer os ajustes que considerou necessários em sua base.

Além de se tornar líder do governo no Senado, função que já ocupou nos governos Lula e Dilma Rousseff, Jucá assumirá o posto de primeiro vice-líder do governo no Congresso. Desta forma, poderá continuar trabalhando em questões relativas à tramitação de Medidas Provisórias (MPs) e Orçamento.

Na sexta-feira, depois de avisar ao presidente que não pretendia mudar de posição no Senado, Jucá acabou cedendo a vaga para que o Palácio do Planalto fizesse a acomodação dos aliados com o objetivo de melhorar a sintonia para aprovar as reformas.

O globo, n.30526 , 05/03/2017. País, p.9