Para defender reforma na aposentaoria, Temer cita seu próprio caso 
Simone Iglesias e Eduardo Barretto
10/03/2017
 
 
Em entrevista à ‘Economist’, presidente afirma que prefere ser impopular a ser populista

-BRASÍLIA- Em entrevista à revista britânica “The Economist”, publicada na edição que chegou ontem às bancas no exterior, o presidente Michel Temer defendeu a necessidade de o Brasil fazer uma reforma na Previdência. Ele declarou preferir a impopularidade a ser populista e argumentou que o futuro dos programas sociais depende de mudanças:

— Prefiro ser impopular agora do que ser populista — afirmou Temer.

Ele usou seu próprio caso como exemplo de distorção no sistema previdenciário. Temer se aposentou aos 55 anos, em 1996, como procurador do estado de São Paulo.

— É um claro exemplo de aposentadoria prematura — disse.

No valor de R$ 9,3 mil, a aposentadoria precoce de Temer é chamada pela “Economist” de “generosa”. O teto do INSS, atualmente, é de R$ 5.531,31. A reportagem ressalta que ele a recebe há mais de duas décadas.

Temer mencionou ainda os casos das previdências do Estado do Rio e de Minas Gerais, que classificou de “virtualmente falidas”.

A reportagem chama Temer de “presidente acidental”. Diz que ele se encontra em uma situação conflitante e lembra que seus principais aliados enfrentam acusações de corrupção. A revista destaca ainda que ele tem menos de 30% de popularidade.

A entrevista foi concedida no último sábado. O presidente não escapou de ser perguntado sobre o slogan “Fora, Temer”.

— Essa é uma prova de vida da democracia — respondeu.

Ao comentar sobre o processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, o presidente afirmou ter “plena paz de espírito”. Sobre a Operação Lava-Jato, ele disse ser o melhor exemplo de um processo que fortalece as instituições nacionais.

A “Economist” destaca que o governo tem uma base parlamentar sólida no Congresso e que Temer, além de mudar o sistema previdenciário brasileiro, também busca fazer a reforma trabalhista. Ele, no entanto, teria se queixado do grande número de partidos.

Temer assegurou à revista que, apesar das dificuldades, deixará um país melhor para quem o suceder, em 2019. A adoção de um limite de gastos e as reformas hoje em tramitação vão contribuir, ressaltou, para reduzir o endividamento público.

 

O globo, n. 30531, 10/03/2017. Economia, p. 19