Acordo com MP reduziu pena em mais de cem anos

18/03/2017

 

 

Doleiro foi condenado a 122 anos e dois meses de prisão em nove ações

 

O doleiro Alberto Youssef foi preso em 17 de março de 2014, quando a primeira fase da Lava-Jato foi deflagrada, num hotel em São Luís, no Maranhão. Momentos antes, ele havia entregado R$ 1,4 milhão em propina da empreiteira UTC a um emissário de João Abreu, então secretário da Casa Civil da ex-governadora Roseana Sarney.

Na Lava-Jato, ele foi condenado a 122 anos e dois meses de prisão em nove ações. Graças ao acordo de delação premiada, cumpriu três anos de prisão, sendo os quatro últimos meses de prisão domiciliar.

Youssef já havia sido flagrado pela Justiça no Caso Banestado, quando atuava como doleiro e enviava recursos ilegalmente para o exterior, por meio das antigas contas CC5. A fraude foi descoberta no início dos anos 2000 e ele assinou acordo de delação premiada, homologado pelo juiz Sérgio Moro.

Ao ser preso novamente, desta vez na Lava-Jato, ele argumentou que não estava mais cometendo o mesmo crime. Ele havia deixado de ser doleiro e, agora, atuava como operador de propina — ou seja, distribuía dinheiro para os políticos, usando empresas de fachada para justificar os repasses das empreiteiras.

Sua articulação política fez com que despontasse como o principal dos quatro doleiros que foram os alvos iniciais da Lava-Jato. A ligação entre ele e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi o fio da meada para desvendar a corrupção na Petrobras. Em 2013, Youssef havia pago R$ 250 mil por uma Range Rover Evoque, faturada em nome de Costa.

Pelas mãos do doleiro passavam as propinas repassadas ao PP, que recebia valores da diretoria de Abastecimento comandada por Costa. Ao depor, Youssef contou que outras áreas da estatal tinham também seus operadores, como Fernando Soares, o Baiano, operador do PMDB que atuava na Área Internacional, e João Vaccari Neto, do ex-tesoureiro do PT, na diretoria de Serviços.

Num de seus primeiros depoimentos à Justiça, Youssef afirmou que a posse de Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras foi precedida de pressão política, com parlamentares trancando a pauta do Congresso por 90 dias, e que o ex-presidente Lula foi obrigado a ceder.

O globo, n.30539 ,18/03/2017. País, p.7