Segundo delegado, propinas abasteciam o PMDB e o PP

Katna Baran

18/03/2017

 

 

Valores e nomes de políticos ligados ao esquema não foram revelados

Parte do dinheiro de propinas arrecadado pelo esquema de corrupção envolvendo fiscais e frigoríficos, desvendado pela Operação Carne Fraca, abastecia o PMDB e o PP, disse o delegado federal Maurício Moscardi Grillo durante coletiva de imprensa em Curitiba. Ele não revelou, no entanto, valores ou os nomes dos políticos supostamente beneficiados pelo esquema.
— Dentro da investigação, ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era revertida para partido político. Caracteristicamente, já foi falado, ao longo da investigação, de dois partidos: o PP e o PMDB — observa Grillo.

Os dois partidos dizem desconhecer o teor das investigações. “O PP informa que desconhece o teor das denúncias. O partido apoia minuciosa investigação e o rápido esclarecimento dos fatos”, afirma em nota.

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ASSESSORES DE PARLAMENTARES

Já o PMDB disse que “desconhece o teor da investigação, mas não autoriza ninguém a falar em nome do partido”.

Nas interceptações telefônicas mencionadas na decisão do juiz que autorizou a operação são citados nomes de assessores de parlamentares como o do deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR), o do deputado João Arruda (PMDB-PR) e o do deputado estadual Stephanes Junior (PMDB-PR). Esses assessores aparecem em conversas com algum dos fiscais investigados.

O deputado federal João Arruda declarou que acredita na inocência do seu assessor, Heuler Martins, levado coercitivamente para depor. Conversa entre Martins e o superintendente regional do Ministério da Agricultura, Gil Bueno, foi interceptada.

— Pelo que vi do depoimento dele (Martins), ele tratava de assuntos dos municípios, e inclusive com empresas, sobre questões do agronegócio, forte no Paraná. Não vejo o porquê de ele estar envolvido em uma megaoperação como essa. Foi uma coincidência que algumas pessoas envolvidas entraram em contato com ele (Martins) — diz Arruda.

Já Ronaldo Troncha, ex-chefe de gabinete do deputado federal Sérgio Souza, teria recebido um depósito no valor de R$ 5 mil em 13 de agosto de 2009 e outro de igual valor em 13 de junho de 2011 para atuar “em defesa de interesses próprios e de empresas”. Troncha foi alvo de um mandado de condução coercitiva da PF.

— Nessa época, ele não trabalhava comigo — conta Souza.

O deputado Stephanes Junior disse que o assessor mencionado não trabalha com ele há dois anos.

As propinas pagas aos fiscais agropecuários e agentes de inspeção do Ministério da Agricultura eram conhecidas pelos participantes do esquema como “ajudas de custo”, que eram pagas regularmente e chegavam a R$ 50 mil por mês, segundo as investigações da Polícia Federal.

O globo, n. 30539, 18/03/2017. Economia, p.20