Título: Ação paliativa nas rodovias federais
Autor: Castro, Grasielle
Fonte: Correio Braziliense, 20/12/2011, Brasil, p. 9

Governo anuncia operação conjunta entre polícias para reduzir o número de mortes. Média é de quatro óbitos por hora

O governo federal lançou ontem a primeira operação integrada com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), polícias estaduais e agências do trânsito para tentar reduzir a média de quatro mortos por hora em acidentes de trânsito em todo o país. De acordo com dados do Ministério da Saúde, essa média de óbitos persiste desde 2008 e totaliza mais de 41 mil mortos ao ano. Para o ministro das Cidades, Mário Negromonte, é como se a cada dois dias caísse um boeing no Brasil. "A sociedade fica mais comovida com acidentes de um boeing do que com esses espalhados no país inteiro", lamenta.

A aposta da PRF para mudar esse cenário é fazer um levantamento dos trechos em que mais ocorrem acidentes e verificar as principais causas. Com um mapa dos 60 trechos mais perigosos, a corporação fechou parcerias para atuar nesses espaços, responsáveis por 22% dos acidentes. Durante o lançamento da ação, que envolve quatro ministérios — da Saúde, dos Transportes, de Cidades e da Justiça — e o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, explicou que as blitzes ocorrerão simultaneamente nesses trechos até 27 de fevereiro. "Na medida em que as fiscalizações se integram, nós fechamos a porteira para quem burla", acredita Cardozo.

Para especialistas, a operação batizada de RodoVida pode ser um passo para amenizar as tragédias no trânsito, mas não vai resolver o problema. O diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Dirceu Alves Júnior, afirma que a intensificação da fiscalização daria melhores resultados se fosse aliada a ações de educação e punição severa. "O total desconhecimento das adversidades é o grande responsável por esse número absurdo de acidentes. As pessoas aprendem muito pouco e acham que não serão punidas." Segundo o professor de psicologia comportamental da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em trânsito Hartmut Gunther, outros fatores também deveriam ser considerados. "Nós sabemos que a pessoa que recebe as consequências imediatas tem mais chances de aprender. Mas são vários fatores que influenciam nos acidentes. A conservação das estradas e a falta de sinalização também merecem atenção do Estado", alerta.

Motos Além dos alvos tradicionais — motoristas alcoolizados, ultrapassagens perigosas e excesso de velocidade, os motociclistas serão alvo dos fiscais. A quantidade de mortes em acidentes com motociclistas subiu de 9% em 2000 para 22% em 2007, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios. Segundo o Ministério da Saúde, dos 40.610 mortos no trânsito no ano passado, 10.134 eram motociclistas, ou seja, 24,9%. "A moto é um veículo mais frágil, que deixa o condutor muito exposto, qualquer falha pode, com muito mais facilidade, causar um acidente grave", justifica o inspetor da PRF Fabiano Moreno.

Ele acrescenta que 56% dos acidentes em rodovias federais ocorrem em zonas urbanas. "Eles não ocorrem mais em saídas de pistas. Hoje, acontecem nas estradas que cortam as cidades", explica. A mudança de perfil justifica o maior envolvimento de motoqueiros nas tragédias do trânsito. O governo federal estima que tenha gasto de janeiro a setembro deste ano cerca de R$ 7,9 bilhões com acidentes nas rodovias federais.