Renan: Cunha articula tomada do governo de dentro da prisão 
Maria Lima, Lydia Medeiros e Catarina Alencastro 
09/03/2017
 
 
Em resposta, deputado disse que senador deveria ir para o PSDB

-BRASÍLIA- Em um almoço com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), reagiu ao que chama de tomada do governo pelo núcleo político ligado ao expresidente da Câmara, Eduardo Cunha, preso em Curitiba. Na volta ao Congresso, insinuando que o presidente Michel Temer está sendo chantageado, Renan acusou o deputado Carlos Marum (PMDBMS), presidente da Comissão da Reforma da Previdência, de ser o porta-voz de Cunha no Planalto e ter negociado a volta do deputado André Moura (PSC-SE) à liderança no Congresso; a nomeação de Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça; e a ida de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para a liderança do governo na Câmara.

— Há 20 dias, o juiz Sérgio Moro foi solidário com Temer, dizendo que ele estava sendo chantageado e vetando as perguntas de Cunha ao presidente — disse Renan, completando:

— Os últimos sinais emitidos pelo governo com as nomeações mostram que há uma disputa entre o PSDB e o núcleo da Câmara ligado a Eduardo Cunha pelo comando do governo. Os sinais são, de um lado o fortalecimento do PSDB, que é legítimo porque faz uma sustentação importante no governo, e o fortalecimento do grupo originário da Câmara ligado a Cunha — disparou Renan, na volta do Planalto.

Agora, diz Renan, o próximo passo do grupo de Cunha seria levar o sub-chefe de assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, que foi seu advogado, para o comando da Casa Civil.

— Eu disse ao Moreira: fala com o Padilha para voltar imediatamente porque senão o Eduardo Cunha senta lá na cadeira dele o Gustavo Rocha. O (Eliseu) Padilha tem que voltar logo, já está sarado — reclamou Renan.

A irritação maior de Renan com Marum é motivada por uma carta assinada por ele e mais três deputados, pedindo uma reunião da Executiva do PMDB para analisar uma moção com o objetivo de afastar indiciados na Lava-Jato de cargos na direção do partido.

MARUN: POSSO ENTRAR E SAIR DA PRISÃO

Renan debita ao um encontro entre Marum e Cunha, no presídio em Curitiba, no mês de março, as negociações que resultaram nas indicações de Temer, privilegiando aliados do ex-presidente da Câmara.

— Depois de avançar no governo, essa gente vai avançar sobre o partido. Essa carta do Marum veio depois da conversa que ele teve lá com o Cunha em Curitiba e agora age como seu portavoz. Isso é tão óbvio! Imagina, o PMDB que tem um papel histórico, ser comandado pelo Marum? Nessa disputa entre o PSDB e o PMDB do Eduardo Cunha pelo comando do governo, nós somos radicalmente a favor do PSDB — disse Renan, elogiando as indicações dos tucanos, especialmente Aloysio Nunes Ferreira para o Itamaraty.

O deputado Carlos Marun (PMDBMS) rebateu as acusações de que estaria como porta-voz de Eduardo Cunha junto ao governo e provocou.

— O senador está vendo fantasmas. Eu fui visitar Eduardo Cunha, realmente, numa visita solidária, porque eu posso entrar num presídio e sair, coisa que outras pessoas talvez não consigam fazer. Eu não tenho medo de cara feia. Se ele é tão apaixonado pelo PSDB, ele que vá para o PSDB ver se aceitam ele lá — disse.

Após as críticas de Renan, o presidente Michel Temer chamará o colega de partido para uma conversa. O ex-presidente do Senado foi comparado por um auxiliar presidencial ao mandacaru:

— Renan é como o mandacaru. Quanto mais mexe, mais espinhos aparecem. Tem que tratar com muita calma. (Colaborou Simone Iglesias)

 

O globo, n. 30530, 09/03/2017. País, p. 4