GOVERNO COMEÇA A RECOLHER CARNE ESTRAGADA

Gabriela Valente

Ione Luques

18/03/2017

 

 

No Rio, Vigilância Sanitária inspecionará produto em supermercados e buscará amostras para análise

O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, afirmou ontem que a carne estragada nos frigoríficos investigados pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca já começou a ser recolhida. Segundo ele, três empresas foram fechadas e outras 21 estão sob suspeita. Novacki disse que a população tem de ficar tranquila e recomendou cuidados na hora de comprar não apenas carne bovina, mas aves, salsicha, mortadela e até ração para animais de estimação. Também ontem, a Vigilância Sanitária Municipal do Rio informou que começará a coletar, a partir de hoje, amostras de carnes e derivados nos grandes supermercados da cidade para análise.

Segundo o secretário, códigos de barra dos produtos dos três frigoríficos em que a fraude foi confirmada começarão a ser rastreados a partir de segunda-feira. Entre as fábricas com irregularidades, duas são do frigorífico Peccin — uma em Jaguará do Sul (SC) e outra em Curitiba (PR). Uma planta da BRF na cidade de Mineiro, em Goiás, também foi fechada.

As fábricas do Sul produziam embutidos. Foram detectados problemas em salsichas e mortadelas. Já a fábrica goiana é produtora de aves.

Número dois do Ministério da Agricultura, Novacki procurou minimizar os efeitos da operação da PF. Disse que, pessoalmente, comprará carne no fim de semana, mas afirmou que o brasileiro tem o direito de não comprar o produto. Argumentou que há, no Brasil, mais de 4.000 estabelecimentos e que a fraude é restrita a apenas um número baixo.

— Os riscos são muitos pequenos. Não há razão para pânico — garantiu.

Sem explicar como é possível recolher as carnes sem os códigos de barra, o secretário-executivo disse que o processo já começou. Recomendou à população que informe ao Ministério da Agricultura, caso encontre produto suspeito, por meio do 0800-704-1995.

No Rio, a Vigilância Sanitária explicou que serão recolhidas amostras de carne embalada a vácuo, linguiça calabresa e empanados de frango (nuggets). Os produtos serão encaminhadas ao Laboratório de Controle de produtos do órgão, que vai fazer análises microbiológica (verificar contaminação por microrganismos, como a salmonela), de rotulagem (verificação da composição do produto), microscopia (para detectar corpos estranhos no alimento e se há indícios de fraude), análise sensorial (verificar cor, textura e odor) e análise físico-químico (deterioração e alteração na cor).

— Não temos embasamento ainda para comprovar se os produtos que estão hoje à venda estão contaminados ou não. Após feitas as análises, poderemos orientar melhor o consumidor — detalha Aline Borges, coordenadora técnica do órgão.

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MINISTÉRIO AFASTA 33 SERVIDORES

De acordo com Novacki, o Ministério da Fazenda afastou 33 servidores envolvidos na fraude da carne. Serão abertos processos administrativos contra esses funcionários públicos.

O secretário ponderou que um grupo muito pequeno de servidores foi suspenso. E lembrou que o quadro do ministério é de 11 mil servidores:

— É necessário separar o joio do trigo. Não basta ser íntegro e ser correto, tem de parecer íntegro e correto.

O secretário avaliou que o corpo técnico da pasta é altamente qualificado, e o sistema de inspeção federal, robusto e submetido a avaliações constantes. Isso inclui as autoridades sanitárias estrangeiras por parte de 150 países importadores de carnes brasileiras.

— Não vamos tolerar desvios e atos de corrupção. Estamos tomando medidas enérgicas em relação a servidores e empresas e compartilhando informações com a Polícia Federal e com o Ministério Público — afirmou Novacki.

Questionado sobre a possibilidade de ter produtos cancerígenos na carne, Eumar Novacki disse se preocupar com as informações que foram divulgadas:

— Eu me preocupo com informações de que têm isso ou que têm aquilo.

Ele afirmou que só terá um diagnóstico da fraude em 15 dias. E não confirmou a possibilidade de haver um caso de papelão misturado com carne de vaca.

As primeiras denúncias do caso divulgado ontem ocorreram há quase sete anos e, há dois anos, foram iniciadas as investigações, que culminaram com as prisões e conduções coercitivas. Conforme Novacki, em dez meses, desde que o ministro Blairo Maggi assumiu, foram abertos mais processos administrativos do que nos dois anos anteriores.

Pela manhã, assim que foi divulgada a operação da PF, o ministro da Agricultura anunciou, em uma de suas contas em rede social, que resolveu interromper a licença de dez dias, retornar ao ministério e afastar do cargo todos os servidores envolvidos nas fraudes investigadas pela operação da Política Federal.

“Já determinei o afastamento imediato de todos os envolvidos, e a instauração de procedimentos administrativos", escreveu o ministro em sua conta no Twitter. “Todo apoio será dado à PF nas apurações. Minha determinação é tolerância zero com atos irregulares no Ministério da Agricultura".

Maggi usou a mesma expressão do secretário, ao dizer que é preciso “separar o joio do trigo” e afirmou que muitas ações já foram feitas na pasta para garantir fiscalização correta da produção de carnes.

O globo, n.30539 , 18/03/2017. Economia, p. 22