Tucanos registraram 25% de valor delatado

Eduardo Bresciani

04/03/2017

 

 

Enquanto ex-diretor da Odebrecht cita R$ 6 milhões em caixa 2, TSE aponta doações de R$ 1,5 milhão

 Enquanto o ex-diretor da Odebrecht Benedicto Junior afirmou que houve pagamento de R$ 6 milhões em 2014 por meio de caixa 2 para as campanhas eleitorais de Pimenta da Veiga (PSDB) ao governo mineiro, Antonio Anastasia (PSDB) ao Senado e Dimas Fabiano (PP) a deputado federal, o montante declarado pelos candidatos e pelo PSDB mineiro ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como doações recebidas das empresas do grupo foi de apenas 25% deste montante, R$ 1,5 milhão.

A campanha de Pimenta declarou ter recebido apenas R$ 200 mil de forma direta da Construtora Norberto Odebrecht, além de outros R$ 780 mil repassados pelo diretório estadual tucano. A campanha de Anastasia registra apenas R$ 50 mil em doação direta da construtora, além de R$ 112 mil vindos da campanha de Pimenta. No caso de Dimas, não há registro do recebimento de qualquer doação.

O diretório do PSDB de Minas Gerais, fonte da maior parte dos recursos recebidos, declarou ter recebido R$ 730 mil de forma direta e outros R$ 560 mil de forma indireta, por meio do diretório nacional tucano.

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DELATOR: R$ 3 MILHÕES PARA MARQUETEIRO

Benedicto Júnior falou ainda em outros R$ 3 milhões de caixa 2 para o pagamento de um marqueteiro da campanha do senador Aécio Neves à Presidência da República. Há doações registradas de R$ 4 milhões ao candidato e R$ 12,6 milhões ao diretório nacional tucano no sistema do Tribunal Superior Eleitoral.

O PSDB mineiro afirma, por meio de nota, que “todas as doações recebidas nas campanhas do partido em 2014 foram devidamente registradas na Justiça Eleitoral, conforme determina a Lei”. Diz ainda que “as prestações de contas do Partido e dos candidatos Pimenta da Veiga e Antonio Anastasia foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG)”.

A assessoria de imprensa do senador Anastasia (PSDB) diz que ele “nunca tratou” de qualquer assunto ilícito. “O senador Antonio Anastasia nunca tratou, no curso de toda sua trajetória pessoal ou política, com qualquer pessoa ou empresa sobre qualquer assunto ilícito”, afirma, por meio de nota.

O senador Aécio Neves rebateu acusações feitas com base nos depoimentos dos executivos Marcelo Odebrecht e Benedicto Júnior. Aécio disse, em vídeo divulgado nas redes sociais, que todos os recursos doados à sua campanha em 2014 foram recebidos de forma legal e que as declarações de Marcelo Odebrecht comprovariam isso. Ele refutou acusações de que o partido recebeu recursos de caixa 2 ou propina.

Aécio ainda rebateu informações sobre o depoimento de Benedicto Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura.

— Em respeito à verdade, mas também em respeito a você (ao eleitor). Quero me ater a dois fatos ocorridos nas últimas dias que são elucidativos e que podem ser até pedagógicos para o futuro. O primeiro deles diz respeito ao depoimento do senhor Marcelo Odebrecht junto ao TSE, onde ele afirma de forma categórica que os recursos transferidos ao PSDB na campanha de 2014, quando eu era o candidato à Presidência da República, foram feitos oficialmente, via caixa 1, e que uma solicitação que chegou a ser feita num determinado momento da campanha não pôde ser atendida. Essa é a afirmação literal do senhor Marcelo Odebrecht, o que, por si só, é motivo de reconhecimento da nossa campanha — disse Aécio, em post no Facebook.

Em seguida, o tucano fala no depoimento de Benedicto Júnior.

— No outro dia, em outro depoimento, um outro executivo chamado Benedicto Júnior afirma que, em determinado momento, recebeu da minha parte, como dirigente partidário e candidato, a solicitação para apoio a três ou quatro candidatos que disputavam aquela eleição. Eu, como dirigente partidário, tinha o dever de tentar ajudar centenas, dezenas de candidatos. E sempre da forma correta, da forma legal, da forma lícita. E, em nenhum momento, ao contrário do que tentaram disseminar ao longo do dia de hoje, em nenhum momento o senhor Benedicto afirma que eu solicitei recursos por caixa 2 ou por qualquer outro meio — disse ele. E encerrou: — Portanto, o respeito à verdade é a essência da democracia.

O globo, n.30525 , 04/03/2017. País, p. 4