Banco Central sinaliza que pode acelerar ritmo de queda dos juros

Adriana Fernandes / Fabrício de Castro / Fernando Nakagawa

03/03/2017

 

 

 

Política monetária. Em ata relativa à última reunião, que reduziu os juros para 12,25% ao ano, BC aponta para cenário de inflação de 3,8% este ano, o que deixaria espaço para cortes mais fortes da Selic; tramitação das reformas, porém, pode ser um empecilho

 

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que determinou, na semana passada, a queda de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), deixou uma porta aberta para cortes mais intensos nas próximas reuniões. Um dos sinais para isso é que as projeções oficiais passaram a apontar uma inflação de 3,8% já neste ano - bem abaixo do centro da meta, de 4,5%.

Mesmo antes de o Copom decidir, na quarta-feira passada, baixar a taxa Selic para 12,25% ao ano, já havia uma forte demanda por uma queda maior, de 1 ponto porcentual, e esse movimento agora tende a crescer. O próprio mercado já trabalha com essa perspectiva: pesquisa feita pelo Broadcast Projeções com 40 instituições financeiras mostra que a maioria (27) ainda projeta uma queda de 0,75 ponto na Selic na próxima reunião do Copom, mas 13 já preveem uma queda de 1 ponto.

Alas do governo e boa parte do mercado já gostariam de ter visto uma queda maior dos juros na última reunião. E o argumento para isso permanece: a falta de reação da economia.

Em meio a um cenário de pressão, o Copom parece se antecipar ao frisar, no documento, que manterá sua autonomia na decisão. Vinte linhas da ata foram dedicadas a debater conceitos de política monetária e manifestar a “preferência por manter maior grau de liberdade” para decidir sobre a taxa Selic. A frase parece especialmente simbólica após o presidente do BC, Ilan Goldfajn, ter dito que a Selic entrara em janeiro em novo ritmo de queda, de 0,75 ponto.

Para o economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, o BC não quis se comprometer com um corte mais profundo dos juros na próxima reunião, nos dias 11 e 12 de abril, mas fez questão de deixar as portas abertas para isso. Ele ainda prevê um corte de 0,75 ponto no próximo encontro, mas disse que a probabilidade de corte de 1 ponto é “crescente”.

O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa também acredita que a opção de corte de 1 ponto está sobre a mesa, mas acha, no entanto, improvável que seja usada. “O senso de urgência para acelerar o ritmo de corte não está presente em abril, já que a atividade está melhor”, disse.

A ata reconhece alguns aspectos positivos na economia. O avanço das reformas é elogiado, mas o comitê nota que há riscos na tramitação, principalmente na reforma da Previdência, o que seria levado em conta na decisão do corte dos juros.

Até mesmo a queda recente do preço dos alimentos - uma boa notícia para a inflação - é tratada com cautela. O texto cita que o movimento não deve ser avaliado sozinho, e efeitos secundários devem ser considerados. Em outras palavras, o Copom não mudará a política de juros só de olho na queda recente dos alimentos.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45062, 03/03/2017. Economia, p. B1.