Delatores detalham fraudes no Rio em ações na Justiça

Juliana Castro

06/03/2017

 

 

Empreiteiros e ex-dirigentes da Petrobras são testemunhas de acusação contra Cabral

O mês de março será decisivo para o exgovernador Sérgio Cabral (PMDB), réu em cinco processos originados por denúncias da operação Lava-Jato. As duas ações mais adiantadas contra o peemedebista, uma em Curitiba e outra no Rio, entrarão numa fase importante com o início da série de depoimentos de testemunhas de acusação, a partir de amanhã. Em Curitiba, a primeira pessoa a ser ouvida será o ex-executivo da Andrade Gutierrez Alberto Quintaes, que, em delação premiada, confirmou o pagamento de propina a Cabral. Ele falará por videoconferência e também vai depor na ação contra o ex-governador, no Rio, no dia 15.

Esses dois processos são originários da Operação Calicute, desdobramento da Lava-Jato, que levou Cabral à prisão, em novembro do ano passado. Um deles corre em Curitiba e será julgado pelo juiz Sérgio Moro. Nele, o peemedebista responde pelo esquema de propinas no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

No outro processo, que tramita na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, com o juiz Marcelo Bretas, Cabral é acusado de receber propina de obras como o Arco Metropolitano, a reforma do Maracanã e o PAC das Favelas. Nesta vara, o ex-governador responde ainda a outros três processos decorrentes da Operação Eficiência, que resultou na prisão do empresário Eike Batista.

No dia 9, será ouvido o delator Paulo Roberto Costa. Foi ele quem apontou os pagamentos a Cabral nas obras do Comperj. Então diretor da área de Abastecimento da Petrobras, Costa teria informado a Rogério Nora de Sá e Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, executivos da Andrade Gutierrez, que a propina de R$ 2,7 milhões deveria ser paga a Cabral, a Wilson Carlos, seu exsecretário de governo, e a Carlos Miranda, apontado como um dos operadores do ex-governador. Os valores teriam sido recebidos pelos três entre 2008 e 2016.

 

PEZÃO SERÁ TESTEMUNHA DE DEFESA

Diretora financeira da Carioca Engenharia, Tania Maria Fontenelle vai depor em seguida. Segundo os procuradores do Ministério Público Federal, ela era responsável pelos repasses de propina da empresa. Tania fez delação e já havia dito que, desde 2008, entregava mensalmente R$ 200 mil a Carlos Miranda. Afirmou ainda que, no segundo mandato do peemedebista, a mesada passou para R$ 500 mil.

No Paraná, também haverá depoimentos nos dias 10, 20 e 27 de março. Ainda no processo em Curitiba, Cabral arrolou duas testemunhas de defesa: o governador Luiz Fernando Pezão e Sergio Lins Andrade, membro do Conselho da Andrade Gutierrez Participações S.A. A data desses depoimentos não foi marcada, mas eles devem ocorrer até 27 de março, por videoconferência.

Em Curitiba, Cabral e seu grupo são acusados de envolvimento no pagamento de vantagens indevidas a partir do contrato da Petrobras com o Consórcio Terraplanagem Comperj, formado pelas empresas Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão. Segundo a denúncia, o contrato com o consórcio de empreiteiras custava originalmente R$ 819 milhões e sofreu cinco aditivos que levaram ao aumento do valor para R$ 1,2 bilhão. Os procuradores sustentam que o contrato foi obtido pela Andrade Gutierrez por meio de licitações fraudulentas realizadas entre as empresas fornecedoras da Petrobras.

No Rio, além de Quintaes, serão ouvidos, no dia 15, outros ex-executivos da Andrade Gutierrez: Rogério Nora, Clóvis Primo, João Marcos de Almeida da Fonseca e Rafael de Azevedo Campello. Vão depor também Vera Lúcia Guerra, funcionária da joalheria Antonio Bernardo, e Maria Luiza Trotta, da HStern. Os depoimentos restantes estão marcados para o dia 17.

 

ADRIANA PEDE PARA NÃO COMPARECER

Entre os que serão ouvidos está Michele Thomaz Pinto, ex-funcionária do escritório de advocacia da ex-primeiradama Adriana Ancelmo. Adriana também é ré na ação que corre na 7ª Vara Federal Criminal, mas sua defesa pediu que ela não compareça às audiências. O mesmo pedido foi feito por José Orlando Rabelo, apontado como um dos operadores do esquema.

Na ação da Calicute no Rio, Cabral é acusado de liderar um grupo que desviou, pelo menos, R$ 224 milhões.

O globo, n.30527 , 06/03/2017. País, p.5